Desaparecimento de estudantes do México causa indignação em todo o mundo. Toda solidariedade!

17/10/2014 - Representantes da CSP- Conlutas e da Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (Anel), juntamente com outras entidades do movimento sindical e estudantil, reuniram-se nesta quinta-feira, dia 16, com o cônsul geral do México de São Paulo, José Gerardo Traslosheros Hernández, para tratar do desaparecimento de 43 estudantes daquele país.

As entidades entregaram uma carta ao cônsul com a assinatura de mais de 50 organizações, cobrando justiça e a imediata apuração e punição dos responsáveis pelo desaparecimento dos estudantes da cidade de Iguala, desde o dia 26 de setembro.

O dirigente da CSP-Conlutas Mauro Puerro informou que o cônsul mostrou-se aberto ao diálogo e se prontificou a entregar a carta para os órgãos competentes no México. “Reafirmamos na audiência o conteúdo do documento e fizemos a exigência de apuração dos desaparecimentos e assassinatos. Esperamos que essa conversa se concretize em ações para que os responsáveis sejam punidos”, disse Puerro.

Campanha internacional
A iniciativa da CSP-Conlutas é parte da campanha internacional deflagrada após o desaparecimento dos estudantes. Em todo o México e em vários países, o terrível ataque tem gerado indignação e solidariedade.

No dia 26 de setembro, 80 estudantes da escola rural para professores Raúl Isidro Burgos, de Ayotzinapa, na cidade de Iguala, estado de Guerrero, viajavam em ônibus. Segundo informações divulgadas pela imprensa, eles estavam se organizando para coletar fundos.

Os relatos falam de que os estudantes foram atacados por policiais e grupos paramilitares, ligados ao narcotráfico. O saldo foi de seis mortos, três dos quais estudantes, e vinte feridos. Cinquenta e sete estudantes desapareceram, sendo que vinte deles, como afirmam testemunhas oculares, foram levados à força por policiais de Iguala e do Estado de Guerrero. Desde então, 43 estudantes ainda estão desaparecidos.

O prefeito de Iguala, José Luis Abarca, suspeito de ter vínculos com a quadrilha dos irmãos Beltrán Leyva, fugiu da cidade e permanece foragido, juntamente com sua esposa.  Nas últimas semanas vieram à tona os vínculos entre a polícia municipal de Iguala e o grupo criminoso conhecido como Guerreiros Unidos. Bem como, o governador de Guerrero, também é acusado de omissão no caso e ligações com paramilitares.

A escola de Ayotzinapa é uma das escolas rurais do México. Em 1926, como parte de um projeto de combate ao analfabetismo e à pobreza em comunidades rurais, o governo criou uma rede de escolas especiais, chamadas de Escolas Normais, em que o objetivo era formar alunos com potencial de se tornarem líderes comunitários.

Das 29 unidades da rede, 13 sobreviveram. A Escola Normal de Ayotzinapa é conhecida como uma espécie de "celeiro de guerrilheiros". Dois dos principais líderes de luta armada da história mexicana, os professores Lúcio Barrientos e Genaro Rojas, vieram de Ayotzinapa.

"Os alunos que estudam naquela escola são militantes e têm maior conhecimento político que a média. Pelo menos é assim que são vistos pelo governo mexicano", disse o correspondente da BBC no México Juan Carlos Perez, que recentemente visitou Ayotzinapa.

Na segunda-feira, dia 13, estudantes da mesma escola foram às ruas de Chilpancingo, capital do Estado de Guerrero. Manifestantes enfrentaram a polícia e atearam fogo em partes do Palácio do Governo.

A repressão brutal do Estado não é novidade no México: em 12 de dezembro de 2011, a polícia assassinou dois estudantes que protestavam contra as condições da escola para professores de Ayotzinapa, em um tiroteio que deixou mais de 20 feridos.

Nada mudou”, afirma Abel Barrera, diretor da organização de defesa de direitos humanos Tlachinollan, ativa em Guerrero, que está cuidando do caso dos jovens estudantes. “É o mesmo padrão de impunidade das forças policiais que permite que continuem cometendo os mesmos delitos. Não houve qualquer julgamento político por parte do procurador de Justiça do Estado, nem do secretário de Segurança Pública”.

Em nota, a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional) questiona que seja apenas o narcotráfico o responsável pelo ataque e desaparecimentos dos estudantes, ressaltando uma série de fatos que colocam em dúvida essa versão amplamente defendida pelo governo.

O governo do México tem feito todos os esforços para prejudicar as investigações da sociedade civil. Em 11 de outubro, não foi permitido o acesso da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) às covas onde os corpos foram encontrados. A EAAF é uma organização de peritos especializados em violações de direitos humanos que foi chamada por parentes dos desaparecidos e organizações da sociedade civil para investigar a origem dos corpos.

A falta de colaboração do governo mexicano pode ser uma tentativa para acobertar os responsáveis pelo crime e mais do que isso uma tentativa de barrar a luta dos estudantes.

Segundo a LIT o governo do presidente Peña Neto tomou posse sob a sombra de fraude eleitoral e está a frente de um Estado que carece de credibilidade e o setor mais penalizado é a juventude mexicana, que não tem emprego, educação e seguridade social.  Um ataque aos estudantes e ativistas de Ayotzinapa poderia ser uma tentativa de amedrontar e manter a estabilidade política no país.

O que acontece no México é absurdo e revela as relações criminosas do Estado com organizações paramilitares e do narcotráfico. Tudo sob a omissão e conivência dos Estados Unidos, que fecha os olhos às violações dos direitos humanos no México. É preciso uma grande campanha de solidariedade internacional para que este caso não fique impune”, defende Toninho Ferreira, presidente do PSTU de São José dos Campos e 1° suplente de deputado federal.

"E como dizem as famílias dos estudantes desaparecidos, vivos os levaram, vivos os queremos", afirmou Toninho.



Leia a nota da LITAyotzinapa: algunas de las claves de la masacre