Campanha do MML denuncia turismo sexual com a Copa

26/6/2014 - Na Copa das injustiças sociais, as trabalhadoras estão dizendo não à exploração sexual. O Movimento Mulheres em Luta (MML) colocou na rua a campanha “Cartão Vermelho para o Turismo Sexual”. A campanha é uma denúncia do turismo sexual que aumentou com o Mundial no país.

O blog PSTU Vale entrevistou Janaína dos Reis, integrante do MML do Vale do Paraíba.

Blog PSTU Vale - Que motivos levaram o MML a lançar a Campanha "Cartão Vermelho para o Turismo Sexual"?
Janaína dos Reis - O Brasil é rota do tráfico internacional de mulheres, sendo as mais jovens, negras e da região do Nordeste as mais afetadas. Ainda é muito disseminada, inclusive pelos próprios governos, a visão da mulher brasileira como objeto sexual, de que aqui no país há sexo fácil.

Com a Copa da Fifa isso se aprofundou ainda mais, sendo utilizada a visão da mulher brasileira como um atrativo para a vinda de turistas estrangeiros. Segundo matéria recente do jornal Folha de São Paulo estima-se um aumento de cerca de 60% da exploração sexual de mulheres e crianças no país com o Mundial. 

Por isso, o MML definiu pela construção da campanha “Cartão Vermelho para o Turismo Sexual”. Queremos denunciar essa situação absurda contra as mulheres e as poucas iniciativas do governo Dilma para coibir essa prática, bem como exigir medidas concretas para proteger mulheres e crianças.

Que legado a Copa vai deixar para as mulheres no Brasil?
Janaína - As mulheres são afetadas de diversas formas, como, por exemplo, pelas remoções e repressões que têm ocorrido. Mas o aumento da exploração sexual é dos mais gritantes, afetando as mulheres e transexuais. 

Ainda antes do início da Copa, a Adidas fez uma camiseta que associava a Copa no Brasil ao turismo sexual, com frases e imagens com duplo sentido e ao corpo de uma mulher negra. Essa imagem foi tão ofensiva que a Adidas foi obrigada a retirar a camiseta do mercado.

Essa semana mesmo, o apresentador Luciano Huck nos seus perfis do Facebook e Twitter pediu que as mulheres cariocas e solteiras se inscrevem-se para conseguir um “gringo dos sonhos. "Carioca? Solteira? Louca para encontrar um príncipe encantado entre os 'gringos' que estão invadindo o Rio de Janeiro durante a Copa? Chegou a sua hora... Mande fotos e por que você quer um gringo'sob medida", escreveu ele, possivelmente preparando algum novo quadro para o seu programa “Caldeirão”. Os posts sofreram uma enxurrada de críticas. Afinal, é uma clara apologia ao turismo sexual e até a prostituição.

Já há denuncias do crescimento de focos de exploração sexual, como no entorno do Itaquerão e do aeroporto de Guarulhos. A Fifa e patrocinadores realizaram um evento em Florianópolis, cuja revista de divulgação tinha na capa a propaganda de uma boate de prostituição. Por todo o país, os empresários do sexo visam lucrar muito com essa uma prática odiosa.

Como você avalia a postura da Fifa e do governo Dilma diante deste tema?
Janaína - A postura da Fifa é a postura de exploração e desrespeito à soberania. Por onde a Copa passou as mazelas contra o povo pobre só aumentaram e as mulheres são as maiores vítimas, principalmente por conta do turismo sexual.

O governo Dilma e a própria Fifa apresentaram muito poucas medidas no sentido de coibir essa prática. As campanhas de conscientização são muito tímidas e a fiscalização sequer foi ampliada efetivamente. Basicamente agiram pressionados, após escândalos como a camiseta da Adidas

Blog PSTU Vale - Há um projeto que defende a regulamentação da prostituição. Por que o MML é contra esse projeto?
Janaína - Enquanto alguns setores apontam a regulamentação da prostituição como solução, como é o caso do projeto de lei do deputado federal do PSOL Jean Wyllys, nós nos colocamos na defesa das mulheres em situação de prostituição, mas reafirmamos que a regulamentação da prostituição é a institucionalização de uma prática de escravidão do corpo da mulher. Uma exploração que a expõe a uma situação de maior violência e opressão. Nos países onde houve a regulamentação, o mercado do sexo se ampliou, favorecendo a cafetinagem.

A falta de oportunidades para conseguir empregos e acesso a serviço públicos de saúde, educação, entre outros, é a principal base para jogar milhares de meninas e mulheres na prostituição. O preconceito joga as mulheres transexuais na marginalidade. O mercado que mais absorve as mulheres transexuais é o mercado do sexo e da prostituição. A resolução desses problemas sociais é o caminho para eliminar essa forma de exploração. O MML está nessa luta.