GM, montadoras, investimentos e Estado

26/03/2019 - A General Motors acaba de anunciar um investimento de 10 bilhões no estado de São Paulo. Para o investimento exigiu dos trabalhadores redução de direitos básicos, do poder público a redução de impostos, com argumento de que operava em prejuízo no Brasil.

As montadoras durante anos foram beneficiadas por políticas governamentais de incentivos fiscais. Eram chamadas de locomotivas da economia. Lucraram excessivamente durante todo este período, com o protecionismo do Estado brasileiro.
Nossos governantes nunca tiveram coragem para construir um carro nacional, sempre se submeteram ao capital destas montadoras.

Durante a crise da GM nos EUA a filiais brasileiras garantiram o lucro dos acionistas do mundo todo. Agora alega prejuízo e pede sacrifício, mas não abrem os livros para comprovar tais prejuízos.

Novamente foram anunciados investimentos e com isso isenção, para a GM, de 25% do ICMS pelo governo do estado. O município deixa de arrecadar IPTU, ISS e outras taxas de serviços. Pode chegar ainda a isentar de pagamento de água e energia elétrica.

É importante frisar que a GM é um dos maiores conglomerados do mundo, detentora de um dos maiores capital do planeta.

Os governantes comemoram, mas quem tem vantagens é apenas a empresa. O dinheiro que o Estado deixa de arrecadar é o mesmo que falta na rede publica de saúde, nas escolas, nas creches, no saneamento básico, em moradia popular etc. A sociedade de conjunto perde, só os capitalistas ganham.

Os trabalhadores também comemoram, e tem suas razões, afinal o desemprego afeta fortemente o país e a região. Porém, na contrapartida de abrir mão de recursos públicos, nem o prefeito Felício Ramuth e nem o governador João Dória exigiram nada da empresa. O correto seria, no mínimo, exigir estabilidade para os trabalhadores e ampliação dos empregos com novas contratações.

Aqui no Brasil, aplica-se o capitalismo sem risco. Se o negócio der errado, o Estado arca com o prejuízo, os capitalistas ganham, e muito. O emprego é considerado uma dadiva dos grandes empresários, quando na verdade a logica é inversa, quem garante o lucro absurdo e avida nababesca dos empresários são os trabalhadores, aqueles que de fato produzem a riqueza.  A “lógica” de mercado é uma lógica incrivelmente perversa.

Em 2013 foi assinado um acordo em moldes parecidos, os direitos foram retirados, mas os investimentos não vieram. E nem sempre investimentos significam empregos.

Os governantes sabem que no futuro o carro será autônomo, compartilhado, que a frota mundial de automóveis vai diminuir drasticamente. Que o carro vai deixar de ser um bem durável e vai passar a ser um bem de serviço.

Ao nosso modo de ver a melhor política é a estatização da empresa e a construção de um carro nacional. Com isto, o investimento será na tecnologia de automação. Assim se estará de fato pensando, em vez de lucros, no futuro. Esta medida sim garantirá empregos hoje e amanhã.

Por Toninho Ferreira, presidente do PSTU São José dos Campos