Crise na GM. Os trabalhadores e a política

29/01/2019 - Em 2018, a GM foi líder em vendas no Brasil com quase 20% do mercado, em segundo lugar ficou a Volkswagen com aproximadamente 15%.

A GM está em crise mesmo?

Foram licenciados mais de 300 mil veículos da General Motors no país em 2018, uma alta de cerca de 40% em relação ao ano anterior. Isso só no Brasil, pois no mundo entre 2013 e 2017 a média de lucro da GM é de 12,93%. Evidente que não se pode falar em crise, o que existe é extrema ganância. 

Veja abaixo alguns pontos do pacote de maldades proposto pela empresa:

A pauta apresentada pela GM inclui aumento da jornada de trabalho, implantação de banco de horas, liberação da terceirização em toda a fábrica, fim do transporte fretado, jornada intermitente e fim da estabilidade no emprego para lesionados.

Entregar direitos garante emprego?

As fábricas que fecharam nos EUA e Canadá aceitaram todo tipo de redução de direitos e mesmo assim os trabalhadores ficaram desempregados. Em São Caetano, as coisas foram feitas nesse sentido e já foi noticiado que agora a GM quer redução de mais 10% nos salários. É claro que isso não vai parar por aí. Temos que nos perguntar: de que adianta aceitar passivamente o pacote de maldades da GM se isso não garante os empregos? Tudo que virá em troca são mais promessas vazias, como em 2013.

As atitudes covardes dos “nossos representantes”

Felício Ramuth já lançou vídeo na internet e declarou o de sempre: NADA. Entre trivialidades como “não mediremos esforços” e “situação complicada” afirmou confiar no esforço conjunto para reverter a situação. Por esforço “conjunto” ele quer dizer jogar nas costas dos trabalhadores da GM menores salários e menos direitos. Ele mesmo vai continuar ganhando seus mais de R$ 22 mil mensais tranquilamente, com todos os benefícios.

João Dória por sua vez tratou de chamar o Meirelles (aquele mesmo que você está pensando) e decidiram juntos socorrer a GM através do ICMS. Seria bom se o governador ajudasse com a mesma rapidez os trabalhadores. Porém, detentor de um patrimônio de R$ 189 milhões, Dória entende melhor o “sofrimento” dos patrões.

Jair Bolsonaro, que se reuniu com a GM através do Ministério da Fazenda, mostrou uma postura diferente: “Se precisar fechar [a fábrica] fecha”. Aparentemente corajosa, a declaração na verdade é a mais covarde. Baixa a cabeça e lava as mãos para a possibilidade de ver pais e mães de família desempregados, mesmo sabendo que o Brasil disponibilizou quase R$ 35 bilhões nos últimos 10 anos em renúncia fiscal para o setor automotivo segundo dados da própria Receita Federal.

E os sindicatos nessa história?

Os sindicatos no Brasil foram tomados por pessoas que fizeram dele um meio de vida e ascensão social. Isso se agravou mais ainda depois que o PT subiu ao poder e domesticou entidades que antes eram de luta. Obviamente, existem ainda pessoas e organizações que não se burocratizaram a este ponto, porém não se trata aqui de defender ninguém. Os sindicatos nada mais são que os próprios trabalhadores, manter uma organização sindical do lado certo depende da participação dos trabalhadores na vida do sindicato, fiscalizando e fazendo destes o que nasceram para ser, sua ferramenta de luta contra as chantagens dos patrões.

O sistema e a GM. Estatizar a empresa é o único caminho para garantir os empregos

No capitalismo o Estado é um balcão de negócios. Os interesses da sociedade são identificados com os interesses das empresas. Por exemplo, nos EUA quando a GM abriu concordata em 2009, Barack Obama salvou a empresa com dezenas de bilhões de dólares dos contribuintes norte-americanos. Veja o que disse 9 anos depois o atual presidente Donald Trump:

"Os EUA salvaram a General Motors, e esse é o obrigado que recebemos! Nós estamos agora considerando cortar todos dos subsídios”.

Apesar da ameaça, a empresa anunciou o fechamento de mais 4 fábricas no EUA. Este é o caráter patético dos governantes diante das empresas no capitalismo. O Estado praticamente comprou a GM falida e devolveu para os donos, mesmo assim vieram as demissões. Mais coerente seria estatizar a GM e garantir empregos dignos e estáveis, livrando os trabalhadores deste ambiente de insegurança que a empresa insiste em trazer. Mas não, no capitalismo é privilegiado o sistema privado de produção, inclusive se privatiza o que antes era público. Foi assim que, por exemplo, aqui no Brasil se privatizaram a EMBRAER e agora pretendem entrega-la de bandeja à BOEING. Da mesma forma a VALE foi privatizada e em dois acidentes (Mariana e agora Brumadinho) vem destruindo o meio ambiente em Minas Gerais e matando trabalhadores. É inaceitável um sistema como esse, não podemos permitir o que a GM vem fazendo com os trabalhadores. SE A CHANTAGEM CONTINUAR, TEM QUE ESTATIZAR!

É interessante notar que Barack Obama e Donald Trump são considerados extremamente diferentes nos EUA. Aqui no Brasil acontece o mesmo entre Lula/Dilma e Bolsonaro. Mas tanto lá quanto aqui os governos entregam recursos públicos na forma de isenções e subsídios e aceitam retirada de direitos e de empregos. O lado deles não é o nosso.

Fala Toninho - “A GM não respeita os trabalhadores, mas isso não é apenas aqui. O mais recente crime em MG, agora na barragem de Brumadinho, mostra como para as empresas nossas vidas não significam nada. O que importa para eles são os dividendos para os acionistas e o bônus aos diretores das empresas no final do ano. Ou seja, retira dos pobres para entregar aos ricos. Assim é também sobre a questão da taxa de lucro, não importa se entregar todos os direitos ou não entregar nenhum, a empresa vai sempre querer mais lucro e fechará as portas quando bem quiser, com a conivência dos seus políticos capachos. Não podemos esquecer que o dinheiro que o Estado dá a grandes empresas é o que falta na saúde, na educação, na aposentadoria, dinheiro do povo que é entregue para milionários. Reduzindo direitos, até as rescisões ficam mais baratas se chegar nesse ponto. Apenas uma força pode impedir o fechamento: os trabalhadores. Para isso será preciso uma união na luta sem precedentes, na sociedade e toda a classe trabalhadora. A força dos trabalhadores quando colocada em ação é irresistível e passa por cima de empresas e governos, tomemos por exemplo os coletes amarelos na França. Com tantos bilhões que já foram entregues à GM e todo o lucro que ela já retirou do país, se ela insistir na chantagem é preciso estatizá-la para que os trabalhadores e suas famílias não fiquem sem nada e o Brasil possa ter um carro nacional”.