Basta de racismo: a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil, destaca CPI

9/6/2016 - Mais uma vez, a política racista do Estado brasileiro e o extermínio da juventude pobre e negra são revelados por números e fatos. O relatório final da CPI do Senado sobre Assassinato de Jovens, divulgado nesta quarta-feira, dia 8, retoma o alarmante índice de homicídios de jovens negros no país e identifica os culpados: a política de segurança pública e o racismo institucionalizado no país.

A cada ano, são cerca de 23 mil jovens negros assassinados, o equivalente a 63 mortes por dia. Um a cada 23 minutos. A taxa de homicídios entre negros é quatro vezes maior à registrada envolvendo jovens brancos da mesma faixa etária.

A CPI tomou por base os números do Mapa da Violência de 2014, o mais recente feito a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, que contabiliza os homicídios de 2012: foram 30 mil jovens, de 15 a 29 anos, assassinados no Brasil, dos quais 77% foram negros.

Instalada em maio de 2015, a Comissão ouviu mais de 200 pessoas em 29 audiências públicas em vários estados, desde vítimas de violência, familiares das vítimas, professores universitários, pesquisadores, defensores públicos, secretários estaduais de Segurança e de Justiça, policiais e representantes de ONGs, entre outros.

Trecho do relatório afirma: o Estado brasileiro, direta ou indiretamente, provoca o genocídio da população negra: “A partir dos trabalhos desta CPI, somos sabedores que os homicídios da juventude negra estão de algum modo relacionados à ação ou omissão do Estado brasileiro. Seja pelo crescimento dos homicídios decorrentes de intervenção policial, muitas vezes nominados de autos de resistência; seja pela violência emergente do tráfico de drogas nas comunidades de baixa renda, resultado da ausência estatal; seja pelo racismo institucional que se infiltra nas instituições públicas e privadas. Como resultado, a população jovem negra vai sendo dizimada, com números que realmente se aproximam de uma guerra civil”.

Em outro trecho, o modelo atual de atuação policial é taxado de "falido": "O Relatório enfatiza que o ciclo completo de polícia, a carreira única, assim como a desmilitarização, não revela soluções por si sós. Todavia, asseveramos que o modelo atual está falido, não apura crimes, não sabe impedir atos de violência e promove a dizimação da população jovem, negra e pobre".

“Pesquisas e estudos confirmam o que já sabemos ser a realidade das periferias pelo país. Todos os dias, vemos as vidas dos filhos e filhas da classe trabalhadora serem interrompidas brutalmente simplesmente porque são negros”, atesta Raquel de Paula, militante do PSTU e do Movimento Quilombo Raça e Classe.

“Não podemos nos calar e aceitar o discurso da polícia e da mídia que tenta transformar os jovens negros em bandidos e, pior, justificar a barbárie policial e suas execuções sumárias, como no recente caso da morte de um menino de 10 anos”, afirmou.

“Existe no Brasil um racismo institucionalizado, que permeia todas as instituições, e uma crescente criminalização da pobreza que trata todo negro e pobre como bandido em potencial”, disse.

“A luta contra o racismo é uma luta de toda a classe trabalhadora. Precisamos fortalecer a luta pela desmilitarização da PM e pela criação de uma polícia unificada controlada pelos trabalhadores. E mais do que isso, combater os governos, como foi o Dilma e agora é o de Temer, que mantém esse Estado que patrocina o genocídio da juventude pobre e negra”, afirmou.