Acampamento Dirceu Travesso: sem-terra ocupam fazenda em Monteiro Lobato abandonada há 15 anos

1/6/2016 - A terra é “de perder de vista”, como se costuma falar popularmente. A fazenda São Sebastião, em Monteiro Lobato, possui 1,2 milhão de metros quadrados e está ocupada por cerca de 40 famílias sem-terra desde o último dia 26 de maio.

A ocupação recebeu o nome de “Acampamento Dirceu Travesso”, em homenagem ao militante histórico do PSTU e dirigente da CSP-Conlutas, o Didi, falecido em 2014.

As famílias tem o apoio do Movimento Luta Popular ligado à CSP-Conlutas. A reivindicação é que a fazenda, que não cumpre nenhuma função social, seja desapropriada pelo governo.

 “A fazenda está abandonada há 15 anos. Não paga impostos e o caseiro não recebe o pagamento a que tem direito durante todo esse tempo e a dívida trabalhista, que é cobrada na Justiça, deve estar beirando uns R$ 300 mil”, afirma um dos sem-terra que está acampado. A informação é confirmada pelo filho do caseiro e por vizinhos.

A fazenda São Sebastião traz as marcas do tempo e do abandono. Parte da área já foi tomada pela mata. Segundo um dos trabalhadores sem-terra, a fazenda é alvo constante de caçadores e da extração ilegal de palmito. O casarão e vários galpões antigamente utilizados pelo gado e como paiol, entre outras atividades típicas de uma fazenda, estão abandonados e corroídos pelo tempo.

Toda solidariedade! Desapropriação para fins de reforma agrária já!

O PSTU declara todo apoio ao assentamento Dirceu Travesso, de Monteiro Lobato.

“O Vale do Paraíba já teve importantes lutas sem-terra que, após muita mobilização, felizmente, resultaram em assentamentos que deram função social para a terra, como em Tremembé, e mesmo em São José, na antiga fazenda Santa Rita. Agora assistimos o início de mais uma mobilização pela reforma agrária. É uma luta de todos nós”, afirma o presidente do PSTU e suplente de deputado federal Toninho Ferreira, que visitou os sem-terra.

Concentração de terra
Apesar de haver políticos como a ex-ministra do governo Dilma (PT) Kátia Abreu, que no maior cinismo defende que nem mesmo existe latifúndio no Brasil, a concentração de terras aumentou nos últimos anos.

O Brasil registrou durante o primeiro governo da presidente Dilma um aumento de concentração de terras em grandes propriedades privadas de pelo menos 2,5%. Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) revelam que, entre 2010 e 2014, seis milhões de hectares passaram para as mãos dos grandes proprietários — quase três vezes o estado de Sergipe. Segundo o Sistema Nacional de Cadastro Rural, as grandes propriedades privadas saltaram de 238 milhões para 244 milhões de hectares.

Há 130 mil grandes imóveis rurais, que concentram 47,23% de toda a área cadastrada no Incra. Para se ter uma ideia do que esse número representa, os 3,75 milhões de minifúndios (propriedades mínimas de terra) equivalem, somados, a quase um quinto disso: 10,2% da área total registrada. No governo Lula, de 2003 a 2010, o aumento das grandes propriedades, públicas e privadas, foi ainda maior do que na gestão de Dilma. Elas saltaram de 214,8 milhões, em 2003, para 318 milhões de hectares em 2010: aumento de 114 milhões de hectares.