Artigo: O voo da Embraer para fora do Brasil
A diretoria da empresa está no comando de um grave processo de desnacionalização do setor aeronáutico, abrindo caminho para o desemprego de milhares de trabalhadores brasileiros. Apesar de todos os benefícios fiscais e financiamentos recebidos do governo (como os programas de incentivo à exportação Drawback e Reintegra), a Embraer está transferindo parte da produção para México, Estados Unidos, Portugal, Cazaquistão, Argentina, Itália, China, Bélgica e Espanha. Ou seja, o que antes era produzido no Brasil e gerava emprego aqui, começa a ganhar carimbo internacional.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos já comunicou o fato à presidente Dilma Rousseff, ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), ao governador Geraldo Alckmin e aos prefeitos de Jacareí e São José dos Campos. Mas nenhuma providência foi tomada. Enquanto isso, as fábricas que fornecem peças para a Embraer e que têm planta no Brasil estão perdendo contratos e fechando postos de trabalho. E é exatamente com o nível de emprego que estamos preocupados.
O Vale do Paraíba concentra 53% da mão de obra do setor aeronáutico brasileiro. São profissionais especializados que estão sendo descartados, ao passo que empresas norte-americanas e europeias assinam contratos bilionários com a Embraer. Entre os anos de 2008 e 2013, foram eliminados 3.292 dos postos de trabalho somente na região do Vale, o que equivale a 18,8% empregos a menos.
Infelizmente, a Embraer traz um histórico nada louvável quando se trata de sua relação com os funcionários. Desde a privatização, em 1994, a empresa realizou três demissões em massa. A jornada de trabalho imposta pela empresa é a maior do setor aeronáutico em todo o mundo. A PLR (Participação nos Lucros e Resultados) paga pela Embraer é menor do que as de muitas fábricas que têm menos de 600 funcionários. Nas Campanhas Salariais, a empresa “esconde-se” em uma bancada da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e se recusa a negociar abertamente com o Sindicato.
Há duas semanas, o Sindicato enviou mais uma carta endereçada ao presidente da Embraer Frederico Curado para discutir sobre a desnacionalização do setor. Cumprindo sua tradição do silêncio e desrespeito aos trabalhadores e à sociedade, a empresa não se dignou a oferecer qualquer resposta. Simples assim.
Embora se trate de uma empresa privada, o governo continua injetando dinheiro público na Embraer. Segundo dados da própria empresa, o BNDES financiou, entre 2004 e 2012, 18% do valor total das suas exportações em aviação comercial.
Por tudo isso, é preciso ficar atento às estratégias usadas pela Embraer para garantir os lucros dos acionistas que vivem da especulação, formados principalmente por bancos de investimentos. O que está em jogo é uma história que levou quase cinco décadas para ser construída e que está servindo para abastecer de forma irresponsável o capital estrangeiro.
Sendo assim, a presidente Dilma e demais governantes têm de agir imediatamente para garantir a permanência do conteúdo nacional na cadeia aeronáutica do país. Não é apenas uma questão social, mas uma questão de soberania que não pode ser menosprezada.
Por Herbert Claros - trabalhador da Embraer e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região
Artigo publicado no jornal O Vale, em 22 de abril de 2014