Plenária debate racismo no Brasil e prepara encontro nacional de negros e negras

18/2/2014 - A situação racial no Brasil, marcada pelo racismo, desigualdade social, violência e criminalização da pobreza, foi tema da plenária realizada pelo Movimento Quilombo Raça e Classe, no último sábado, dia 15, no Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.

Cerca de 60 pessoas estiveram presentes, entre trabalhadores metalúrgicos, dos Correios, da alimentação, professores, além de estudantes, aposentados e representantes de movimentos por moradia.

A atividade foi preparatória ao Encontro Nacional de Negros e Negras da CSP-Conlutas que acontecerá nos dias 22 e 23 de março, em São Paulo.

Opressão racista e exploração capitalista

Para falar da realidade de negros e negras no Brasil, o palestrante foi o representante do Setorial de Negros e Negras da CSP-Conlutas e estudante da USP Daniel Luiz.

Daniel falou do caráter histórico do racismo, desde o processo de colonização sobre os continentes africano e americano e das teorias racistas, que utilizando-se das diferenças raciais, foram criadas para sustentar os domínios das elites e até hoje trazem suas consequências em uma profunda desigualdade social.

"A diferença salarial entre um trabalhador negro e um homem branco é gritante. Uma diferença que aumenta ainda mais quando se trata da mulher negra", disse.

A violência policial e os "rolezinhos" também foram abordados por Daniel. "Os rolezinhos são uma consequência da falta de lazer e cultura nas cidades aos jovens negros. É a forma da juventude negra buscar seu espaço", disse.

Para Daniel, o aumento das lutas, com uma grande participação da juventude negra, não acontece à toa. A população pobre da periferia é quem mais vem sofrendo com os despejos provocados pelas obras da Copa do Mundo. Como consequência, essa população é empurrada para regiões cada vez mais afastadas do centro das cidades, em condições precárias de moradia e sem acesso aos serviços e infraestrutura.

Foto: Tanda Melo/divulgação Sindmetalsjc
Uma luta de raça e classe
Nas falas, várias dos presentes reforçaram a farsa da democracia racial existente no país, lembrando fatos como a morte do pedreiro Amarildo, dos jovens Jean e Richard, na periferia de São Paulo, o jovem que foi acorrentando num poste do bairro Flamengo, no Rio de Janeiro, como nos antigos pelourinhos.

O advogado e presidente municipal do PSTU, Toninho Ferreira, esteve presente e defendeu lutas contra o racismo na cidade.

"Precisamos exigir da Câmara e da Prefeitura, por exemplo, a instituição do feriado no Dia Nacional da Consciência Negra, e até mesmo a mudança do nome de ruas, como a que homenageia Domingos Jorge Velho, o responsável pela morte de Zumbi dos Palmares", disse.

Para Raquel de Paula, do Movimento Quilombo Raça e Classe, a atividade iniciou os debates que serão aprofundados no encontro nacional, em março.

"Precisamos construir um grande encontro para enfrentar os ataques dos governos, que têm intensificado a criminalização da pobreza e da juventude negra, as remoções e violência por conta da Copa do Mundo. O nosso desafio é construir uma forte luta, de raça e classe, para enfrentarmos a opressão racista e a exploração capitalista", disse.

Inscrições para o Encontro Nacional
Os interessados em participar do Encontro Nacional de Negros e Negras, nos dias 22 e 23 de março, no Sindicato dos Metroviários de São Paulo, devem procurar a CSP-Conlutas Vale do Paraíba (3911-4458) ou o Departamento de Organização de Base do Sindicato dos Metalúrgicos (3946-5308).