Protestos no início de 2014 mostram: na Copa vai ter luta!

Ao em Porto Alegre - Ramiro Furquim/Sul21
24/01/2014 - Na Copa vai ter luta! A frase que tem sido dita desde o ano passado por movimentos sociais está se comprovando desde o início de 2014. Depois dos “rolezinhos” dos jovens da periferia, que trouxeram à tona a tensão social existente na atual conjuntura do país, atos contra o aumento da passagem de ônibus já começam a ocorrer pelo país assim como em 2013, agregando protestos contra a Copa do Mundo.

Na última quarta-feira, dia 22, a inauguração da Arena Dunas, o estádio da Copa em Natal/RN, ocorreu sob protestos. Marcada pela unidade, a manifestação foi organizada por 16 sindicatos, entre eles os filiados à CSP-CONLUTAS e partidos políticos, como o PSTU, PSOL, PCR, PCB e POR, contando com a participação de cerca de 500 pessoas.

O que unificou a todos foi a denúncia dos gastos da Copa, a falta de verba para saúde, segurança, educação e transporte e os gritos de “Fora Rosalba”, pela saída da governadora do estado.

Em Porto Alegre, dois mil nas ruas
Um dia depois, o primeiro protesto convocado pelo Bloco de Luta pelo Transporte Público, em Porto Alegre, reuniu mais de duas mil pessoas. A manifestação ocorrida na noite desta quinta-feira, dia 23, protestou contra o aumento da passagem de ônibus na cidade e a Copa do Mundo.

O Bloco de Luta repete a estratégia adotada no início do ano passado, quando começou a mobilizar protestos antes mesmo de haver um pedido oficial de reajuste das tarifas por parte dos empresários que operam o transporte público na Capital.

Bandeiras anarquistas, de organizações quilombolas, de comunidades ameaçadas de despejo, de grêmios estudantis e de partidos políticos como PSOL, PSTU e PCB se fizeram presentes no protesto.

Os gritos mais entoados pela população lembram as mobilizações de 2013. “Somos o povo! E o passe livre, os ricos vão pagar!”, “Eu pago! Não deveria! Transporte público não é mercadoria!”, “Que sacanagem! É o aumento da passagem!” e “Um! Dois! Três! Quatro! Cinco! Mil! Ou param a passagem! Ou paramos o Brasil!” foram os gritos mais ouvidos na manifestação desta quinta-feira.

Além disso, o caráter contrário à Copa do Mundo ficou bastante claro com frases como “Não vai ter Copa! Vai ter luta!” e “Da Copa, eu abro mão! Eu quero mais dinheiro para saúde e educação”.

Ato em Natal/RN
Copa já consumiu R$ 27,4 bilhões
A disparidade entre os gastos com a Copa do Mundo e a falta de investimentos em áreas sociais como saúde, educação, moradia e transporte, foi um dos estopins da onda de manifestações que toma o país desde junho do ano passado. E não é para menos.

Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), os gastos da Copa alcançaram a soma de R$ 27,4 bilhões, valor bem superior aos R$ 17,2 bilhões gastos na Copa da África do Sul, em 2010, e aos R$ 12,9 bilhões consumidos na Copa realizada na Alemanha, em 2006.

Deste total, R$ 20 bilhões são financiados com dinheiro público, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Com esse dinheiro, poderia se construir 570 mil moradias pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”. Para se ter outra ideia, esse valor corresponde a 71% de todo o orçamento que o governo destina para a educação.

Entretanto, denúncias de superfaturamento, de desvio de verbas e falta de transparência nos gastos das obras da Copa são diversos. A Lei Geral da Copa, aprovada pelo governo Dilma, passa por cima das leis nacionais para garantir os lucros da Fifa e das grandes empresas. Por meio da lei 12.350, a Fifa conseguiu uma isenção escandalosa de vários impostos como Imposto de Renda, IPI, Cofins, PIS-Pasep e encargos trabalhistas.

Como se não bastassem esses gastos absurdos, o governo Dilma e os governos estaduais promoveram uma série de despejos violentos e remoções forçadas de comunidades inteiras para viabilizar as obras da Copa.

Para garantir a realização da Copa à custa de uma “paz de cemitério”, os governos têm aplicado ainda uma política de aumento da repressão e de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais, retomando leis da época da ditadura para impedir protestos e prender manifestantes.

No ato ocorrido em Natal, na inauguração da Arena das Dunas, o governo utilizou um drone (veículo aéreo não tripulado, muito usado pelos EUA) para sobrevoar a passeata e vigiar os manifestantes. Tem dinheiro para Copa, para a Fifa e para uso de tecnologia para a repressão, mas não tem para a saúde e educação.

Desde as jornadas de junho, que o povo está dando demonstrações que não vai mais aceitar os desmandos dos governantes e repudiam o caráter antipopular da Copa no Brasil. 2014 já desperta com muitas lutas e vamos tomar as ruas novamente para exigir mais dinheiro para a saúde, educação, moradia, transporte, enfim, para atender as necessidades da população. O PSTU estará junto com os trabalhadores e povo nas ruas”, afirmou Toninho Ferreira, presidente municipal do PSTU de São José dos Campos.


Com informações: Sul21 e mandato Amanda Gurgel - PSTU/Natal

(atualização 27/01/2014) Leia também: PM de SP atira em manifestante com arma de fogo