Marina Silva: o novo e o velho nas eleições 2014

24/10/2014 - O programa eleitoral de Aécio Neves (PSDB) contou na última quarta-feira, dia 22, com a presença e declaração de apoio de Marina Silva (PSB) em mais um episódio da adesão da ex-candidata à campanha do tucano. Apesar de dizer em junho que não subiria no palanque do PSDB em “hipótese nenhuma”, Marina chega ao final do processo eleitoral “com mala e cuia” na campanha tucana.

Nas primeiras eleições realizadas após as grandes manifestações de junho de 2013, fato que mudou a situação política do país, a campanha eleitoral deste ano foi uma das mais disputadas e marcadas por reviravoltas, como há muito tempo não se via. Nesse sentido, um dos fenômenos que marcou essa eleição foi a candidatura de Marina.

A ex-candidata obteve 22.176.619 votos no 1° turno (15,53% dos votos válidos), sendo a terceira mais votada para a presidência da República. Sua candidatura capitalizou em certa medida o desejo de mudança das massas, expressado nas grandes manifestações de junho.

Muitos trabalhadores e jovens deram seu voto à Marina, com esse pensamento. Mas a ex-candidata que fala em “mudança” e em uma “nova forma de fazer política” teve uma campanha marcada por mudanças de posições políticas, contradições e se aliou ao que há de mais conservador na política brasileira.

A velha política
Com um capital político de mais de 19 milhões de votos obtidos em 2010, muito se especulava em torno da figura de Marina ainda no ano passado, quando ela anunciou a criação da Rede Sustentabilidade, que seria um novo partido com uma “nova forma de fazer política”. Mas, com a não legalização da Rede pela justiça, Marina se filiou ao PSB, tradicional partido da burguesia.

A morte de Eduardo Campos deu o tom inesperado e dramático à campanha, colocando Marina na disputa presidencial. Nas primeiras semanas, a candidata chegou a ameaçar seriamente Aécio e até mesmo Dilma.

Contudo, ao longo da campanha, as ações de Marina foram mostrando que de nova política sua candidatura não tinha nada. Desde os seus financiadores de campanha (grandes empresas, bancos e o agronegócio), alianças, propostas e ações, Marina foi repetindo o mesmo toma-lá-da-cá da política tradicional da direita.

Não bastasse a adesão ao PSB por interesses eleitoreiros, Marina teve como seu vice o deputado federal Beto Albuquerque, um dos integrantes mais ativos da chamada bancada ruralista no Congresso. Financiado por várias empresas do agronegócio e da indústria de armas, Albuquerque foi a tentativa de mostrar o compromisso de Marina com o setor. E assim foi sua campanha.

Apesar de insistente discurso da mudança, Marina apresentou as mesmas propostas neoliberais que o PT e o PSDB aplicaram nos últimos 20 anos. Contra o fim do Fator Previdenciário, a favor de reformas na Previdência, defesa da autonomia do Banco Central, entre outras. A reforma agrária sequer foi tema de seus programas. Sem contar, a postura extremamente conservadora em relação ao combate às opressões, como a homofobia, se aliando a políticos reacionários como Silas Malafaia e Marco Feliciano.

Parte do prestígio de Marina é sua trajetória política e pessoal, a sua atuação na luta na Amazônia e o seu discurso ambiental. Mas isso é um passado muito distante.

Em um dos primeiros debates, na Rede Bandeirantes, Marina causou indignação ao dizer que o sindicalista e ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1991 e com quem militou, era da “elite” assim como Guilherme Leal, dono da Natura e seu vice nas eleições de 2010.

Osmarino Amâncio, que militou com Chico e a própria Marina no Acre, na luta seringueira, repudiou e denunciou a fala da candidata. “Marina é quem foi para o lado da elite. A elite que assassinou Chico Mendes. Ela teve uma história bonita com a gente. Mas isso já deixou de existir há muito tempo. Hoje, ela defende uma política em favor do grande capital, que não traz nenhum beneficio para a luta da Amazônia e do campo”, disse Osmarino em entrevista ao jornal Opinião Socialista.

E, de fato, a atuação de Marina como senadora e ministra do Meio Ambiente, no governo Lula, revela que ela foi abandonando suas convicções. Foi durante seu período como ministra, que os transgênicos foram liberados, foi aprovada a Lei de Gestão de Florestas Públicas (na prática, a permissão para a privatização da Amazônia) e até mesmo a permissão para que pneus usados de outros países (puro lixo ambiental) viesse para o país.

Hoje, Marina fala em sustentabilidade. Mas, financiada por grandes empresas, bancos e pelo agronegócio, Marina demonstra de que lado está.  E não é ao lado dos oprimidos e explorados. Por isso, a adesão de mala e cuia neste segundo turno à campanha do PSDB não é surpresa.

Nestas eleições, Marina foi o novo, por ter criado uma inicial polarização na campanha, mas no final das contas, faz a velha política de sempre: de conchavo com setores conservadores e a serviço dos interesses dos ricos e poderosos.