O que leva ao crescimento da pobreza no Brasil?

08/12/2018 - Mais de um quarto de todos os brasileiros vivem com menos de R$ 406, 00 por mês. Ou seja, 55 milhões de pessoas no país estão abaixo da linha da pobreza. Estes são os dados do mais recente estudo sobre o tema divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão ligado ao governo.

No meio desse caos, permanece no pais uma narrativa vazia, leviana e superficial: fascistas x petralhas, coxinhas x pão com mortadela, esquerdistas x direitistas. Enquanto uns não cansam de dizer: Vai pra Cuba! Vai pra Venezuela! Sem mesmo saber o que se passa nesses países, outros não cansam de ofender, como se fossem donos da verdade: Vai estudar história! Golpista! Sem mesmo conhecer bem a história ou saber o que é um golpe de fato.

Temos que fazer uma análise do que foi a política brasileira nesses últimos anos para poder entender como ainda persiste tanta miséria num país tão rico.

Quando a ditadura militar acabou, deixou para nós um Brasil endividado, com uma riqueza concentrada nas mãos de uns poucos privilegiados e miséria para milhões, um país com muita corrupção. Não foi à toa que o primeiro presidente da nova república tenha sido eleito com o slogan “caçador de marajás”.

De lá para cá passamos por muitos governos diferentes, de direita com privatizações e neoliberalismo, como Collor, Itamar e FHC, e de esquerda, com uma retórica de “defesa dos pobres” e programas sociais, mas também privatizador e neoliberal. Então, após 14 anos de PT e 2 de Temer, nos aguarda agora um novo presidente que promete “mudar tudo isso aí”. Como ele pretende fazer isso? Privatizações e uma política neoliberal bem radical.

É evidente que a superficialidade com a qual se discute a política no Brasil, instigada pelas próprias campanhas de candidatos, declarações de políticos, autoridades e narrativas da mídia, deixam escapar o centro da questão. Toda essa rivalidade que surge disso, com as batalhas incessantes na internet, cheias de memes, fake news e todo arsenal de matérias produzidas para jornais, revistas e programas de televisão, acaba servindo como uma cortina de fumaça que atrapalha a todos nós enxergar o verdadeiro problema.

Assim, o projeto Escola Sem Partido se torna uma briga entre os que acusam de doutrinação contra os que acusam de censura, o programa Mais Médicos vira confronto ideológico, e aí fica de lado o fato de que apesar da educação e a saúde serem péssimas no nosso país, os gastos nessas áreas sofrem cada vez mais cortes, destinando-se essa verba para encher os bolsos de banqueiros e especuladores, através do mecanismo fraudulento da dívida “pública”.

O resultado de tudo isso é que nesse imenso país, cheio de riquezas e com todos os recursos para que se tenha uma vida cada vez melhor, vejamos a pobreza extrema aumentar. E enquanto todos repetem a frase “não tá fácil pra ninguém”, alguns poucos bilionários sorriem discretamente. Aliás, é a eles que interessa essa série de conflitos sem sentido que joga todos nós na confusão.

Para dar um basta a essa situação e sair deste círculo vicioso de embates vazios que não levarão a lugar nenhum é preciso reconhecer que, embora com diferentes discursos e formas, o Estado brasileiro é dominado pela mesma política há muito tempo. Essa política é de defesa de um sistema que não serve mais, baseado na concentração de capital na mão de uma ínfima minoria, explorando a esmagadora maioria que é quem trabalha e produz toda a riqueza do país. É um sistema marcado por alguns momentos de recuperação, que causam uma sensação de ascensão social, como foi há alguns anos atrás, mas que cada vez apresenta crises mais violentas e gera mais pobreza e piores condições de trabalho e de vida.

No Brasil, para resumir a política que os eleitos em 2018 tentarão aplicar propagando aos quatro cantos como a solução para todos os problemas, dizemos: o novo já nasce velho. Quando se dissiparem as expectativas, as cortinas de fumaça e todos os memes do mundo não esconderão os muitos milhões de pessoas jogadas na miséria por esse sistema, isso é um fato.

Por Toninho Ferreira, presidente do PSTU São José dos Campos