Quem precisa de uma ponte estaiada?

17-07-2018 - Projeto da prefeitura de São José dos Campos é caro, desnecessário e integra modelo ultrapassado de mobilidade urbana


O anúncio da construção de uma ponte estaiada na zona oeste da cidade, sobre a rotatória entre as avenidas São João e Eduardo Cury e o Córrego Vidoca, pegou a população de surpresa, principalmente por suas grandes dimensões, completamente desproporcionais e exageradas.


A obra está orçada em cerca de R$ 63 milhões, com boa parte desse dinheiro vinda de empréstimo junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). A justificativa da prefeitura é desafogar o trânsito daquele ponto, principalmente em horários de pico.

O problema é que, no horário de pico, há vários pontos de engarrafamento na cidade e nenhum deles exige um tempo enorme para a travessia. Assim, o volume do trânsito de veículos não é motivo para construir uma ponte desse tamanho e com todo esse dinheiro.

Falando em dinheiro, lembramos que a cidade tem muitas prioridades antes de qualquer ponte, como saúde, moradia, educação e tantas outras.

Mas, mesmo entre os que reconhecem tudo isso, há aqueles que defendem o projeto da ponte, por considerá-lo um símbolo de progresso da cidade.

Modelo ultrapassado

Na verdade, esse projeto vem coroar um modelo já bastante antiquado de mobilidade urbana.

Nos anos 1920, o Engenheiro Francisco Prestes Maia elaborou um projeto de urbanização para a cidade de São Paulo, que tinha como foco a atração de investimentos, com prioridade no automóvel, que, naquela época, era o símbolo de progresso. Em 1930, foi publicado o projeto do engenheiro, com o nome de Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo (Ed. Melhoramentos, 1930).

E, até hoje, as cidades do país planejam a vida de seus habitantes considerando, em primeiro lugar, o tráfego de veículos individuais.

O projeto da ponte estaiada, então, não tem nada de moderno. Ao contrário, é pensado a partir de ideias velhas, de cerca de 100 anos, condensadas em um livro de 1930.

Novas propostas

No quesito mobilidade urbana, o atual transporte público, caro e ineficiente, incentiva as pessoas a usarem cada vez mais seus carros. Há hoje uma frota de cerca de 400.000 veículos na cidade, numa relação próxima a de um carro para cada dois habitantes. E a solução não é abrir avenidas e construir pontes.

A cultura do automóvel deve acabar. Aliás, o próprio automóvel como conhecemos hoje está com os dias contados. Existem já em testes serviços de transporte via aplicativos que usam carros autônomos, ou seja, sem motorista.

Mas, por enquanto, os nossos automóveis devem ser usados como exceção, não como regra. Para isso, deve-se municipalizar o transporte público urbano, sem empresas privadas prestando esse serviço e sim uma única empresa municipal. Consequentemente, haverá transporte em todos os horários, em todos os lugares e a baixo custo. Além disso, ciclovias e novas formas de transporte devem ser implementadas.

Há várias alternativas para a mobilidade urbana, que custam menos, são menos poluentes e tem como prioridade melhorar a vida das pessoas.

Portanto, não precisamos, absolutamente, dessa ponte ridícula.


De SJ Campos, por Denis Ometto, advogado e militante do PSTU.