Artigo: Seis lições da greve dos caminhoneiros - Parte 3

12/6/2018 - O mito que o povo brasileiro não luta e aceita pacificamente ser governado pelos exploradores tem que ser desconstruído e para isso serve o estudo da história não só desta greve recente, mas de várias lutas e resistências populares ao longo da história do Brasil. Existe uma frase que define loucura e é frequentemente atribuída a Albert Einsten porém sem evidências que é dele mesmo. Seja como for é extremamente relevante e verdadeira ela diz “loucura é continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. E é para isso que serve também o estudo da história e dos fatos recentes e antigos, para que se extraiam as lições necessárias para não cometer os mesmos erros e assim poder fazer diferente. Aqui as últimas duas lições da mobilização da greve dos caminhoneiros que trataremos, mas certamente a reflexão sobre esta e outras mobilizações podem nos ensinar muito mais.


5-      Intervenção militar não é a saída

Com toda essa revolta do povo contra o regime e suas instituições e a desconfiança mais do que justificada da eficácia dos chamados três poderes (executivo, legislativo e judiciário) é claro que todos começam a pensar que isso tudo tem que ser derrubado pois ninguém aguenta mais esse mar de lama. Pensando bem, esse mar de lama pode ser tomado até no sentido literal quando lembramos da tragédia de Mariana no maior acidente ambiental da história do país, esse acidente é um duro golpe na tão defendida ideologia da privatização como solução e, para variar, continua impune. A partir daí, algumas pessoas começam a pensar: será que uma intervenção militar não seria a saída pra melhorar a situação? A resposta é não e a greve dos caminhoneiros ajuda a entender o porquê. Dentro das forças armadas não existe espaço para decisões democráticas e a hierarquia é tudo. Embora as baixas patentes tanto da polícia quanto do exército sejam compostas por elementos que vem da classe trabalhadora, as cúpulas destas corporações com seus generais, comandantes, coronéis, etc. são compostas por elementos que ou são de origem ou defendem a classe social que está no poder do Estado hoje, ou seja, a burguesia brasileira e que querem garantir a continuidade de seus privilégios na infame e já citada “ordem”. É por isso que quando a mentira e a manipulação não funcionam o governo não hesita em chamar o exército. Foi assim na grande mobilização em Brasília do dia 24 de maio de 2017 e foi da mesma forma um ano depois agora na greve dos caminhoneiros do fim de maio de 2018. Embora tenha existido certa hesitação das forças armadas em reprimir a greve o que poderia gerar uma divisão, a tendência nessas corporações é a hierarquia se impor e através de seus comandantes servirem de apoio à manutenção do sistema descendo o cacete e jogando bombas naqueles que almejam a mudança como de fato aconteceu em vários locais, portanto a lição é não se iludir com uma espécie de salvação da pátria por esse caminho, pois ele leva a mais do mesmo.

6-      A rebelião é o caminho

Rebelião parece termo exclusivo de revolta nas cadeias não é? Então vou contar uma história que envolve presidiários. Numa certa fábrica do interior de São Paulo, uma das maiores metalúrgicas da região e que fabrica carrocerias de caminhão com unidades espalhadas por outras localidades do país trabalhavam alguns presos do regime semi-aberto do IPA (Instituto Penal Agrícola). Em certa conversa um deles fez uma comparação muito pertinente, disse que o ambiente que reinava na fábrica era igual ao que ele estava acostumado na cadeia com apenas uma diferença, o castigo. Segundo ele, enquanto na cadeia o castigo era físico, uma cotovelada, uma injeção dada com violência na enfermaria, uma borrachada, ali na fábrica o castigo era econômico, desconto de horas, perda da cesta básica ou benefícios e em último caso demissão. As fábricas tem seus carcereiros também, assim como as prisões. E se fizermos uma analogia com o regime que vivemos constatamos que essa chamada democracia não é bem de fato uma democracia mesmo, talvez uma democracia para os ricos, mas não para os trabalhadores. Vivemos presos nessa ideia de que controlamos a sociedade escolhendo nossos governantes de poucos em poucos anos mas de fato a política continua sempre a mesma e enquanto uns cada vez tem mais, nós que produzimos a riqueza e colocamos o Brasil pra rodar cada vez temos menos. Os caminhoneiros mostraram o caminho, chega de ilusões nessa falsa democracia onde só os ricos e corruptos levam vantagem! Não temos nada a perder nos rebelando contra este sistema, pelo contrário, temos tudo a ganhar! A greve dos caminhoneiros ainda não acabou, faremos dela nosso exemplo e aprenderemos suas lições para uma rebelião muito maior, uma que mude de uma vez por todas nosso país e que coloque no poder do Estado a classe social que realmente produz e transporta a riqueza do nosso país, nós trabalhadores!


B.Mendes, trabalhador em São José dos Campos