Artigo: Seis lições da greve dos caminhoneiros - Parte 2


 9/6/2018 - Por B. Mendes
Quem não aprende com a história não está bem preparado para enfrentar o presente e preparar o futuro. E sem dúvida a recente greve dos caminhoneiros além de mostrar que o caminho é a luta entrou para a história. Continuando este aprendizado, seguem aqui mais duas lições importantes que esta greve deixou para nós.


3-      A imprensa brasileira é extremamente manipuladora

Isto já é sabido há muito tempo e já está espalhado por todo o Brasil. Jargões como “o povo não é bobo, abaixo a rede globo” são bem conhecidos. Muitos como eu não viveram a época da ditadura, mas faz todo sentido saber que um comício das diretas já foi noticiado como aniversário da cidade de São Paulo a pouco mais de 30 anos atrás pela Globo. Mesmo assim, foi chocante o grau de manipulação das notícias por todas as emissoras de televisão, assim como também vários outros veículos de comunicação ligados a grandes grupos, sites, jornais e rádio. Foi feito um grande alarme sobre a falta de remédios nos hospitais, dificuldade de encontrar alimentos nos mercados, gente chorando por ter que desmarcar eventos e compromissos sem falar nas pessoas que precisam de tratamentos médicos contínuos como hemodiálise ou que necessitam de cirurgias com medo de morrer, e tudo jogado nas costas dos grevistas como se este fosse o grande problema do Brasil. Não foi por acaso que choveram memes na internet mostrando, por exemplo, ambulâncias paradas há tempos por falta de manutenção e ridicularizando as notícias da grande mídia, bem como o surgimento de correntes no whatsapp chamando a boicotar o Fantástico do dia 27 de maio. Após o fim da greve seguiram as ironias nas redes sociais comentando que agora todos estes problemas estavam resolvidos.

4-      O governo tem lado e não é o lado do povo

Outra lição extremamente importante. Existe um senso comum que o Estado é ou deveria ser imparcial e arbitrar os conflitos na sociedade de forma a conduzir todos ao bem comum. A forma que o governo agiu fazendo pronunciamentos mentirosos, divulgando acordos que supostamente acabavam com a greve e buscando de todas as maneiras ludibriar a população e enfraquecer o movimento dos caminhoneiros tornou evidente que o Estado nada tem de imparcial quando o assunto é garantir que os poderosos continuem no poder e que nada mude de verdade. A função do Estado é garantir este status quo que o governo chama de “ordem”, e nada mais didático do que o decreto G.L.O. de Temer, ou seja, decreto de garantia da lei e da ordem que venceu nesta segunda feira (04/06) e que colocou o exército em ação para portar fuzis durante assembleias de petroleiros dentro das refinarias como aconteceu aqui em São José dos Campos e tentar amedrontar os caminhoneiros pelas estradas do país. A história já provou que o Estado não é imparcial, pela sua própria natureza serve sempre a uma classe social que usa deste poder para manter as coisas em seu favor, primeiro com ideologias e manipulações e se for preciso com armas, porém nada melhor que uma lição recente como esta vivida pelos brasileiros no mês de maio para nos lembrar deste fato. Se prestarmos atenção a esta lição aprenderemos de uma vez que é necessário tirar o poder do Estado das mãos desta classe social burguesa, que aliás é a minoria do povo, para colocar esse poder a serviço da maioria do povo, nas mãos dos trabalhadores, nossas mãos.


No próximo post publicaremos outros dois ensinamentos deixados por essa poderosa mobilização


B.Mendes, trabalhador em São José dos Campos