Artigo: Seis lições da greve dos caminhoneiros

08/06/2018 - Por B. Mendes

Muitos brasileiros estão frustrados com o término da greve dos caminhoneiros e, até mesmo, torcendo para uma nova paralisação. Isso acontece pois este movimento foi além das justas reivindicações econômicas pedidas pelos grevistas.

A greve tornou-se a expressão da revolta generalizada que existe na população brasileira. Assim como em 2013, não foi apenas por 20 centavos na redução da passagem, agora também não foi por 46 centavos na redução no preço do óleo diesel que pararam os caminhões.

Existe sim uma indignação contra os preços dos combustíveis em geral, com a alta carga de impostos, com os pedágios caros e com as condições nas estradas brasileiras. Para além disso, o que tornou a greve muito forte e seu apoio tão expressivo foi o nojo da canalhice do presidente e sua mala de propina com 500 mil reais mostrada pelos noticiários; a revolta ao lembrar do apartamento de um ex-ministro com 51 milhões de reais que a Polícia Federal precisou de cerca de 14 horas só pra contar; a certeza de que somos governados por uma camarilha de bandidos em Brasília, mas também nos estados e municípios, bandidos estes que não se detêm nem em roubar o dinheiro da merenda das crianças. Todos esses sentimentos, compartilhados por todos nós que trabalhamos muito todos os dias, somados à constatação da impunidade que reina nas também corruptas esferas judiciárias são componentes essenciais deste barril de pólvora chamado Brasil.

Importante notar que embora tenha se perdido uma chance de ouro [vale destacar, por culpa das direções burocráticas] para unir a luta de todos numa Greve Geral que derrubaria esse governo e a partir daí abrir novas perspectivas, quem sabe até de reorganizar a sociedade fazendo uma limpa, a greve dos caminhoneiros não foi em vão e deixou importantes lições. Nós reunimos seis destas lições, vamos começar com as duas primeiras:

1-      Onde está o verdadeiro poder?

O impacto e alcance da greve provou como é central o papel que exercem na economia e na política aqueles que transportam a riqueza deste país pelas estradas afora. O mais importante é entender que nada vale o dinheiro se não há nada para comprar. A verdadeira riqueza de um país está na produção e ponto final, obviamente que o deslocamento das mercadorias é parte do processo produtivo. Aqueles que controlam e distribuem a verdadeira riqueza, ou seja, os bens produzidos por milhões de trabalhadores, têm o poder em suas mãos e podem de fato mudar a história mais facilmente do que pensam. Aviões não decolam, carros ficam na garagem, algumas cargas assim como as ambulâncias são liberadas de acordo com a vontade de quem deve exercer o poder nesse país: os trabalhadores. Esta é sem dúvida uma grande lição que a greve dos caminhoneiros deixou e certamente só não foi mais profunda apenas por que certos burocratas a frente de imensos aparatos e federações sindicais não tiveram a decência de fazer aquilo que seria sua obrigação, ou seja, unir todos nessa luta chamando uma greve geral que abalaria as bases deste sistema capitalista decadente. Se em alguns dias os caminhoneiros deixaram o governo de joelhos, já imaginaram o que não faria a união de quem produz com quem transporta numa possível greve geral?  E pra quem pensa que esse assunto está encerrado resta lembrar que esse acerto de contas foi feito exatamente na medida das concessões do governo, de forma provisória.

2-      É preciso romper com o individualismo

Não resta dúvida sobre a força que exercem os caminhoneiros sobre a economia do país. Existem categorias que tem a mesma centralidade na economia, petroleiros, metalúrgicos, operários em geral, que são os que produzem a riqueza. Entretanto, enquanto profissão, não há comparação em alcance e impacto. Mesmo assim restou evidente que por mais forte que seja um setor isolado não é suficiente para fazer a mudança que o Brasil precisa. Se queremos que a transformação aconteça temos que estar dispostos a agir, por mais cômoda que seja a ideia de acompanhar tudo passivamente e ver caírem do poder todos estes parasitas que nos governam já deu pra ver que sem sacrifício e contribuição de todos para isso não vai rolar. Aliás, o individualismo é uma ideologia que antes de tudo ajuda a sustentar os privilégios, dividindo justamente aqueles precisam se unir para revolucionar a sociedade e colocar no devido lugar estes bandidos de terno que teimam em continuar aí fingindo que falam em nome do povo.


No próximo post publicaremos outros dois ensinamentos deixados por essa poderosa mobilização


B.Mendes, trabalhador em São José dos Campos