Artigo: Corrupção e demissões na Embraer

16/11/2016 - Por Toninho Ferreira

Depois de demitir 1.642 trabalhadores no mês de outubro por meio de PDV (Plano de Demissão Voluntária) e se negar a reajustar os salários dos funcionários, a Embraer anunciou que pretende colocar 2.000 trabalhadores em lay-off. Novamente, assistimos esta empresa repetir um brutal ataque contra os trabalhadores e a população joseense.

Em 2009, a empresa fez uma das maiores demissões em massa do país. Hoje, novamente, quer fazer o mesmo, porém, há um detalhe: o fim de milhares de postos de trabalho na empresa e a recusa em pagar até mesmo a reposição da inflação aos trabalhadores se dão em meio a um grave escândalo de corrupção da empresa.

A Embraer anunciou que irá pagar uma multa de US$ 200 milhões a autoridades brasileiras e americanas para encerrar um processo por corrupção. A empresa é investigada desde 2010 por pagamento de propinas em negócios fechados com os governos da República Dominicana, de Moçambique, Arábia Saudita e Índia. Segundo informações divulgadas pela imprensa, a cúpula da empresa sabia do esquema, de acordo com delação premiada feita pelo gerente da área de defesa.

O valor dessa multa é o mesmo que a empresa divulgou como meta para “economizar” com corte de custos. Ou seja, a Embraer quer repassar o ônus da corrupção para os trabalhadores, com demissões e arrocho salarial. Um absurdo!

Ainda na campanha eleitoral, quando fomos candidato a prefeito de São José, o PSTU denunciou essa situação. Fizemos um apelo aos demais candidatos para que procurássemos a Embraer para discutir a defesa dos empregos. Vale salientar que a empresa vive também um processo de desnacionalização que tem transferido empregos para plantas no exterior. Entretanto, nenhum deles se pronunciou.

O fato é que emprego costuma ser tema de promessa de campanha, mas quando se trata de evitar, de fato, demissões em massa, os governantes se calam, sejam do PT, PSDB, PMDB, PRB e outros partidos que estão na Prefeitura ou na Câmara. O motivo é simples: a Embraer já financiou e ajudou eleger grande parte dos políticos que estão aí, seja do atual governo ou do que iniciará o mandato em 2017.

A luta dos trabalhadores da Embraer deve ser uma luta de todos. A Embraer é uma empresa privada, mas que vive de financiamentos com dinheiro público, via BNDES, incentivos e desonerações fiscais. Os acionistas da empresa, a maioria dos quais são estrangeiros, não podem agir com tanta ganância e irresponsabilidade social.

Na onda de privatizações que varreu o Brasil na década de 90, um dos discursos mais propagados era o de que as estatais eram propícias à corrupção e a administração privada iria evitar este tipo de problema.   Hoje, ao contrário do discurso de outrora, vemos que a privatização da Embraer não foi salvaguarda contra a corrupção. O motivo é simples: a corrupção é inerente ao sistema capitalista, em que a busca por lucro e o poder econômico ditam as regras de um vale-tudo.

Os responsáveis pela corrupção na empresa devem ser punidos e ter os bens confiscados. Basta de demissões. É preciso garantir estabilidade no emprego, redução da jornada de trabalho para 40h semanais e aumento real de salários a todos os trabalhadores. Acima de tudo, é hora de discutirmos a necessidade de reestatizar a Embraer, uma empresa estratégica para o país, que é financiada com dinheiro público.

Por Toninho Ferreira
Presidente do PSTU São José dos Campos e candidato a prefeito nas eleições deste ano
Artigo publicado no jornal O Vale, de 12 e 13 de novembro de 2016