Fifa e CBF afundam num mar de lama

29/5/2015 - Por Ozzi Stephano, do PSTU de São José dos Campos

A prisão de José Maria Marin na última terça-feira, dia 27, em Zurique, é o mais novo episódio da novela de corrupção em que se afunda a entidade máxima do futebol mundial atualmente, a FIFA.

O ex-presidente da CBF e da organização da Copa do Mundo de 2014 é acusado de integrar uma quadrilha responsável pela cobrança de propinas milionárias em esquemas de corrupção nos torneios Copa do Brasil, Taça Libertadores e Copa América. O Ministério Público da Suíça também confiscou computadores e documentos para investigar cartolas suspeitos de terem recebido propina para votar na escolha das sedes da Copas do mundo de 2018 e 2022.

A crise que se instaura na FIFA só pode ser entendida sob a ótica de uma crise geral do esporte mais popular do planeta e que aparece com força no país do futebol, o Brasil, abarcando as esferas financeira, moral, política e técnica.

Financeiramente os clubes sofrem uma transformação radical. Se por um lado o financiamento exige cada vez mais alternativas para a sustentação financeira, por outra a opção preferencial dos cartolas têm sido a entrega total das agremiações às mãos do grande empresariado internacional e a elitização forçada do acesso aos estádios com o aumento do preço dos ingressos e a transformação dos clubes em marcas.

A lógica empresarial do futebol (e por que não do esporte em geral?) e a quase total autonomia da FIFA frente a qualquer lei internacional – a entidade tem estatutos que funcionam como leis e julga como se fosse o Estado - criam problemas incontroláveis como os sucessivos casos de corrupção, onde as empresas funcionam como corruptoras e os dirigentes atuam como corruptos. A situação não é muito diferente com as entidades nacionais ou regionais como a CBF e a CONCACAF.

A administração arcaica dos clubes que exaltava figuras como Vicente Mateus ficou para trás. A onda modernizadora dos clubes pelo mundo, inspirada nos modelos europeus, é apresentada aos olhos dos torcedores como a única saída para salvar o esporte.

No entanto, tornar o esporte mais famoso do planeta em negócio bilionário só poderia trazer prejuízo a quem mais interessa, os torcedores e a população mais pobre. Grandes negociatas como as Copas do Mundo transformaram-se em sofrimento às classes despossuídas. Em nome do lucro, a Copa de 2014 no Brasil representou mortes de operários e superfaturamento na construção dos estádios, despejo e violência nas comunidades, ingressos com valores totalmente inacessíveis e uma hipocrisia sem tamanho dos governos, que investiram num megaevento que desviou os recursos das áreas sociais para os bolsos da FIFA, das construtoras e das redes de comunicação.

A financeirização, além de fonte de corrupção, também estimulou a competitividade técnica desenfreada entre os clubes e seleções, prejudicando o esporte. Se o objetivo é ganhar troféus para dar satisfação aos patrocinadores, fazer gol a qualquer custo passa a ser o objetivo das partidas. Por isso, o futebol técnico e inteligente dá cada vez mais lugar a um futebol físico, corrido, violento e que deixa totalmente de lado o valor artístico ou plástico.

Jogadores que pensam, driblam e armam jogadas bonitas dão lugar a jogadores que correm, agridem e que são orientados a trabalhar como robôs em campo, onde a única função é tocar a bola o mais rápido possível. As partidas de futebol estão cada dia mais parecidas a eventos como o UFC, onde ganha quem bate mais.

Aí também está inserida a crise do futebol brasileiro, que hoje não se encaixa nesses padrões e sofre com humilhações como o 7 a 1 contra a Alemanha e com a dificuldade de competir com o futebol europeu. Por isso, cada vez mais os torcedores, em especial os mais pobres e que tem o futebol como um dos únicos momentos de lazer na vida, devem lutar contra a privatização desse esporte.

Por tudo isso, as empresas, a FIFA e a CBF já provaram não servir para administrar o futebol. Essas instituições devem ser substituídas por outras, democráticas e públicas, que devem compor uma entidade mundial num formato de conselho sem centralização política.

Devemos exigir o fim do financiamento privado dos clubes e seleções e sua substituição pelo financiamento estatal. Para isso, os governos devem cessar o pagamento da dívida bilionária aos banqueiros que, no caso do Brasil, consome metade do orçamento nacional. Temos que lutar pela democratização dos clubes com eleições diretas e transparentes para todos os sócios.

Fim do patrocínio das empresas já! Financiamento estatal dos clubes de futebol! Em defesa do futebol arte!

Mais dinheiro para o esporte e todas as áreas sociais e serviços públicos! Fim do pagamento da dívida pública aos banqueiros!

Fim da FIFA e CBF! Pela democratização do esporte, controle dos sócios sobre os clubes e entidades!

Pela imediata prisão e confisco dos bens dos corruptos e corruptores do esporte!


Ozzi Stephano é militante do PSTU em São José dos Campos