Artigo: A Copa das lutas

13/6/2014 - Em 2007, quando o Brasil se candidatou a ser sede da Copa do Mundo da Fifa 2014, ninguém poderia imaginar o que está acontecendo em nosso país. No chamado “país do futebol”, a Copa não contagiou. Nos bairros, nas periferias, não estamos vendo ruas pintadas, enfeites decorando as casas, como sempre ocorreu.

Ao contrário. Está tudo muito tímido. O clima geral é de indignação e protesto contra as injustiças da Copa. Greves e manifestações tomam o país. São trabalhadores metroviários, rodoviários, operários da construção civil, professores, metalúrgicos, sem-teto e tantos outros. Apesar de ainda não repetir as manifestações multitudinárias de 2013, novamente, o mês de junho é marcado por uma onda de mobilizações.

O Brasil é e sempre foi o país do futebol. Um esporte que contagia e faz parte da cultura e do cotidiano de milhares de homens, mulheres, jovens e crianças. O estilo brasileiro de jogo, com dribles e certa indisciplina tática, encanta dentro e fora do país.

Também sou fã de futebol. Gosto de ver a seleção em campo. O problema é quando a relação de afeto que o povo brasileiro tem com esse esporte é usada para favorecer os interesses de uma minoria, em desrespeito e descaso às necessidades mais sentidas da população.

O governo e os defensores da Copa da Fifa tentam criar o velho clima “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Colocam os manifestantes como se fossem inimigos do futebol e do país. E, na tentativa de dourar a pílula, falam de um suposto legado do mundial. Ainda não entenderam o recado das jornadas de junho.

As mobilizações contra as injustiças da Copa não são contra o futebol. Mas sim contra o descaso, a corrupção e os ataques dos governos, que favorecem a Fifa e grandes empresas, mas abandonam os serviços públicos e ignoram os direitos dos trabalhadores e do povo. “Da Copa eu abro mão. Quero dinheiro para saúde, transporte, moradia e educação” foi e ainda segue sendo a principal bandeira levada nas manifestações.

Levantamento do Ibope Inteligência, realizado em maio, apontou que 42% da população brasileira é contra o torneio no país. O fato é que as pessoas se perguntam: Copa para quem?

Para a Fifa e os empresários patrocinadores será a mais lucrativa. O megaevento renderá 10 bilhões de reais aos cofres da entidade. A Lei Geral da Copa garantiu a esta corporação, alvo de vários escândalos de corrupção, poderes que atentam contra a soberania brasileira.

Já para os trabalhadores e a maioria do povo, infelizmente, o legado é outro. As mortes são a face mais cruel e desumana dos preparativos do mundial. Nove operários perderam a vida em acidentes de trabalho. Na África haviam sido dois.

Mas os problemas são vários e de todos os tipos. Remoções forçadas de comunidades para a realização de obras da Copa afetaram milhares de pessoas. Todos os estádios tiveram o orçamento estourado em até 200% mais caro. Obras não foram entregues a tempo ou nem serão. Uma legislação de exceção está em vigor no país e, no ano que marca os 50 anos do início da ditadura militar, a repressão tem recrudescido a cada dia.

É por tudo isso, que os governos viram seus sonhos de obter dividendos políticos com a Copa ir por água abaixo. É por isso que na Copa vai ter luta! Junho de 2013 mostrou o caminho: o povo nas ruas garante conquistas e mudanças!

Toninho Ferreira, presidente do PSTU de São José dos Campos