Lucas Guerra, do Sindipetro-SJC: “A privatização do setor de energia é um ataque que segue em curso e teremos de responder com muita luta”

04/11/2013 - Após 18 anos da última grande greve unificada da categoria, ainda no governo do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), este ano os petroleiros voltaram a protagonizar uma forte mobilização nacional.

Mais do que as reivindicações econômicas da Campanha Salarial em curso, o principal eixo da paralisação foi contra o leilão do Campo de Libra, a maior reserva de petróleo do pré-sal brasileiro, levado a cabo pelo governo Dilma.

Entrevistamos Lucas Guerra, diretor do Sindicato dos Petroleiros de São José dos Campos e militante do PSTU, sobre as lições deixadas por essa mobilização e os desafios que seguem.


1 - A greve nacional dos petroleiros, encerrada no dia 22 de outubro, foi a maior paralisação da categoria desde 1995. Como você avalia essa mobilização?
Foi uma greve forte, radicalizada, que durou uma semana e chegou a parar a produção em diversas regiões do Brasil. Mas o mais importante são dois elementos: primeiro foi uma greve nacional que envolveu, em unidade, toda a categoria, que há muitos anos não lutava unificada. Segundo, foi uma greve essencialmente política, contra a privatização do pré-sal, riqueza de todo o povo trabalhador, não apenas dos petroleiros. Por isso, o movimento ganhou tanta força e apoio de norte a sul do país que, se não serviu para barrar o leilão, serviu para desmascarar o governo privatista da presidente Dilma e para colocar todo o povo em estado de alerta para a privatização do setor de energia e de minérios. É um ataque que segue em curso e que teremos de responder com muita luta.

2 - Os trabalhadores terceirizados são a maioria dos funcionários da Petrobras atualmente. Como foi a participação destes trabalhadores?
Por ser uma greve de natureza política, e não econômica, foi ainda mais forte a adesão dos terceirizados. Em São José e em outros lugares onde eles são ampla maioria, como em Cubatão, houve greve unificada de petroleiros próprios e petroleiros terceirizados, apesar de suas direções traidoras. Graças a essa ampla participação, conseguimos também conquistas para esses setores, como o compromisso por parte da Petrobrás de reter até 5% do valor global dos contratos das empresas terceirizadas como garantia de pagamento das dívidas trabalhistas de seus empregados ao final do contrato.

3 - Como ficou o Acordo Coletivo de Trabalho fechado nesta Campanha Salarial?
A empresa iniciou a negociação de forma muito dura, propondo aumento zero, abono muito inferior ao ano passado e colocando diversos ataques no acordo, como horários flexíveis e o estabelecimento de metas para a participação nos lucros que deveriam ser 100% cumpridas para que o valor da PLR se mantivesse igual aos anos anteriores. No caso de descumprimento de qualquer meta, inclusive as que não estão sob controle dos operários, tais como quantidade de vazamentos ou quebras de equipamentos, a PLR poderia cair até quase pela metade. Os trabalhadores se uniram para rechaçar essa proposta e mostraram sua força com essa grande greve nacional. Em quatro dias, a empresa apresentou três propostas diferentes e diversas conquistas foram garantidas. Infelizmente, não pudemos avançar mais pois a FUP, federação CUTista indicou a aceitação da proposta mesmo com todas as bases ainda em greve e nos forçou a um acordo abaixo das nossas possibilidades.

4 - A luta contra o leilão do Campo de Libra foi uma das principais razões para a paralisação. Como foi esse debate na categoria?
A categoria de conjunto foi ganha para rechaçar o leilão, entendendo não apenas que a privatização do setor do petróleo ataca nossos direitos e nossos empregos, mas principalmente com a discussão de que essa é uma riqueza gigantesca de todo o povo trabalhador e não deveria ser entregue ao capital internacional. Principalmente após toda a espionagem comprovada que os americanos estão fazendo da própria Dilma e da Petrobrás e ao entenderem que essa riqueza foi entregue por apenas cinco milésimos de seu valor real.

5 - A defesa de uma Petrobras 100% estatal é hoje uma das principais reivindicações do movimento. Por quê?
Nós entendemos que o petróleo é a maior riqueza do povo brasileiro e a Petrobrás a maior empresa do país e uma das maiores do planeta. Essa empresa foi construída com a luta e o trabalho de todo o povo brasileiro e essa riqueza do pré-sal foi descoberta com esse mesmo trabalho conjunto. A privatização da Petrobrás, ainda que parcial, significa entregar para o imperialismo todo esse patrimônio e esse trabalho que é nosso. A Petrobrás lucra cerca de 25 bilhões por ano e com a exploração do pré-sal poderá lucrar até sete vezes esse valor! Se isso fosse controlado pelos trabalhadores seria possível acabar com a terceirização e ainda dobrar os investimentos públicos em saúde, educação, transporte, habitação e saneamento.

6 - Como você resumiria as principais lições da Campanha Salarial deste ano?
Uma delas é que o trabalhador brasileiro começou a entender que o governo quer entregar sua riqueza para o imperialismo e que vai ter que se unir e se mobilizar para impedir isso. Mas, a maior lição é que é possível arrancar conquistas com a unidade dos trabalhadores na luta. O que impede que as vitórias sejam maiores e que a unidade siga são as direções traidoras. Digo isso, pois quem acabou com a greve foi a FUP, direção governista. A categoria mostrou disposição de ir além, infelizmente a CUT traiu a greve. O central é que os petroleiros apenas começaram sua luta e saem certos de que organizados podem conquistar mais.