Ernesto Gradella recebe anistia política por perseguição durante a ditadura militar

19/9/2013 - Ernesto Gradella, ex-deputado federal e candidato do PSTU a prefeito de São José dos Campos nas eleições de 2012, recebeu o status de anistiado político. O julgamento da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aconteceu no último dia 12.

Militante histórico de esquerda, Gradella tem uma longa trajetória nas lutas da classe trabalhadora. Sua anistia se soma a de outras centenas de trabalhadores e militantes da região, como da Embraer e GM, que também foram anistiados no último período, em razão da perseguição e repressão durante a ditadura militar no Brasil.
Entrevistamos Gradella para saber um pouco da história que resultou nessa justa concessão de anistia política.

PSTU Vale - O que determinou o julgamento do seu pedido de anistia?
Gradella - Os militantes da Liga Operária e depois da Convergência Socialista sofreram forte vigilância por parte dos órgãos de repressão da Ditadura Militar. Ao analisar os arquivos dos extintos DOPS e SNI, encontramos milhares de páginas de relatórios acompanhando as atividades dos nossos militantes sindicais e políticos.
Vários de nossos companheiros foram presos, torturados e centenas foram demitidos ou impedidos de trabalhar em razão da atuação conjunta das grandes empresas com os organismos de repressão.
Infelizmente, a lei de Anistia em nosso país “perdoou” os ditadores, seus aliados e também os torturadores e demais membros dos órgãos de repressão.
No meu caso, há relatórios desde o período em que estudei na Universidade Federal de São Carlos e que participava do movimento estudantil (1973 a 1977), até a minha atuação como membro do comando de greve dos metalúrgicos de São José dos Campos e região (1979). Continuou durante o período em que fui vereador (1983 a 1990) e depois como deputado federal (1991 a 1995).
Como se pode ver, mesmo após o fim da Ditadura Militar, o aparato de repressão continuou intacto e investigando todos os que defendiam as ideias socialistas. Seguindo a indicação dos nossos sindicalistas metalúrgicos, que entraram com pedido de anistia para centenas de operários demitidos nas greves durante a ditadura, entrei com o pedido de anistia em 2006 e que agora foi julgado, me concedendo o título de anistiado político e reparação econômica.

PSTU Vale - Quais fatos basearam a decisão de anistia?
Gradella - O relator da Comissão de Anistia analisou três demissões minhas, ocorridas nos anos 1979 e 1980, nas empresas metalúrgicas Siderúrgica Fi-El, J. Itamar e Engesa, bem como também o acompanhamento das minhas atividades políticas pelo DOPS e pelo SNI, nas décadas de 70 e 80. Baseado nesses fatos, ele determinou parecer favorável ao meu processo.

PSTU Vale - A partir desta decisão, quais os próximos procedimentos?
Gradella - Aguardar a publicação do resultado no Diário Oficial.

PSTU Vale - Como você vê essa decisão?
Gradella - Durante toda a década de 80, como ativista sindical e depois vereador, acompanhei as lutas da classe operária em nossa região e, consequentemente, suas vitórias e derrotas. Nos dois casos, após as lutas, nós já sabíamos que a patronal iria demitir os nossos companheiros que haviam se destacado nessa luta. Mas o pior era quando, passados meses após a demissão, esses companheiros não conseguiam se empregar novamente. Sabíamos da existência de uma lista das empresas perseguindo os ativistas, mas não que tal lista era centralizada pelo próprio governo brasileiro, que a disponibilizava para os grandes empresários de nosso país.
Convivi com vários companheiros que passaram a sobreviver de bicos, como ambulantes, etc... , com muitas dificuldades financeiras para eles e suas famílias. Portanto, hoje, a cada ativista sindical que é anistiado, eu me sinto um pouco recompensado. Mesmo considerando pequenos os valores das reparações econômicas que lhes são pagas, é sempre uma vitória o “pedido de desculpas” do governo brasileiro pela perseguição ocorrida. Assim, ao receber também a anistia, tenho orgulho pelas lutas que participei durante a ditadura.

PSTU Vale - Seu processo foi julgado juntamente com outros?
Gradella - Na sessão da Comissão de Anistia em que meu processo foi julgado, não havia na pauta outro companheiro da nossa região ou da antiga Convergência Socialista. Nesse dia foram anistiados também dois ex-operários da Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda e um ex-integrante do “Teatro Oficina”.

PSTU Vale - Você integra a Comissão da Verdade criada pelo Sindicato dos Metalúrgicos. O que vocês esperam dos trabalhos?
Gradella - Durante a ditadura, centenas de metalúrgicos da GM, Embraer, Avibras, National, Engesa e outras fábricas foram perseguidos por lutar por democracia, melhores salários e condições de trabalho. Foi um período financiado por grandes empresas, que patrocinaram o golpe e os aparatos da repressão. O objetivo da Comissão criada pelos metalúrgicos é levantar informações e dados que comprovem a participação das empresas públicas e privadas na repressão aos trabalhadores e a relação com a ditadura militar. Uma série de documentos de órgãos de segurança do Estado e de empresas comprova a existência de um monitoramento para reprimir os trabalhadores e seus sindicatos. Queremos, dentro de nossas possibilidades, subsidiar a Comissão de Anistia e o Grupo de Trabalho responsável por investigar o tema com dados sobre nossa região.

PSTU Vale - O PSTU está na luta para conquistar a anistia para militantes da Convergência Socialista. Qual a importância desta iniciativa? O seu julgamento ajuda?
Gradella - A Convergência Socialista, que deu origem ao PSTU, teve um importante papel nas lutas dos trabalhadores e contra a ditadura em todo o país e principalmente em nossa região. Os militantes da CS foram perseguidos, torturados e alvo de repressão do regime durante muito tempo e hoje resgatar essa história e lutar pela anistia e reparação a todos os companheiros e companheiras é lutar para fazer justiça. Queremos que o Estado brasileiro reconheça a perseguição a esses ativistas que tiveram papel ativo contra a ditadura.