Retrospectiva 2015

28/12/2015 - O ano de 2015 não vai terminar em dezembro. O ano que começou com ataques históricos do governo do PT à classe trabalhadora viu o aprofundamento do desgaste do governo e da ruptura de parcelas expressivas da população e dos trabalhadores com esse partido. Grandes manifestações encabeçadas pela classe média precipitaram uma crise política que, aliada à crise econômica, desembocou na tramitação do processo de impeachment da presidente.

Do lado de cá, a classe trabalhadora deu mostras de que segue viva e lutando. As greves de metalúrgicos contra as demissões, dos operários do Comperj e a grande greve dos petroleiros passaram, muitas vezes, por cima das direções governistas e mostraram a disposição de luta da classe. O ano termina com uma grande vitória dos secundaristas em São Paulo contra o governo Alckmin (PSDB).

Mas 2015 também mostrou o avanço da barbárie capitalista, com o crime socioambiental da Samarco, em Mariana (MG), e a crise dos refugiados na Europa.


JANEIRO

  • O ano já começa quente. O governo Dilma, logo após as eleições anunciou o novo ministro da Fazenda, o ex-diretor do Bradesco, Joaquim Levy, implementa um novo pacote de ataques aos trabalhadores, com a restrição ao seguro-desemprego, ao abono salarial (PIS), à pensão por morte e ao auxílio-doença. Anuncia, ainda, um corte bilionário no orçamento, de R$ 65 bi, incluindo R$ 7 bi na educação. Essas medidas seriam responsáveis pelo aprofundamento do desgaste de Dilma, principalmente entre os mais pobres.
  • No ABC paulista, os operários da Volkswagen realizam uma vitoriosa greve de 11 dias e revertem a demissão de 800 operários. No Rio, operários do Comperj vão à luta contra as demissões em massa e a falta de pagamentos de salários e direitos.
  • Na Grécia, o Syriza vence as eleições com um discurso contra a Troika e os planos de austeridade, mas Tsipras, primeiro-ministro eleito, forma um governo com um setor da direita, o partido Gregos Independentes.

 FEVEREIRO

  • Trabalhadores da GM de São José dos Campos (SP) cruzam os braços contra a demissão de 798 trabalhadores. Após seis dias de greve, a montadora recua das demissões.
  • Operários do Comperj, demitidos e com meses de salários atrasados, radicalizam a luta contra as demissões. Em manifestação histórica, no dia 10, fecham a ponte Rio-Niterói.
  • Em Brasília, o deputado do PMDB Eduardo Cunha é eleito presidente da Câmara, ponto alto da carreira iniciada nos braços de PC Farias no final dos anos 1980.
  • No Paraná, os servidores estaduais dão um grande exemplo de luta, enfrentam a repressão do governo Beto Richa (PSDB) e derrubam pacotaço contra o funcionalismo.

 MARÇO

  • No dia 15 de março, manifestações multitudinárias, reunindo majoritariamente setores da classe média, vão às ruas contra o governo Dilma. A maioria (56% segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT) se manifestava contra a corrupção.

ABRIL

  • No dia 15, várias manifestações ocorrem no país contra o PL das Terceirizações e as MPs de Dilma. É o Dia Nacional de Luta, convocado por CSP-Conlutas, CUT, CTB e outras centrais.
  • Com Eduardo Cunha à frente da Câmara, projeto da redução da maioridade penal começa a tramitar. No mesmo período, o menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos, foi morto com um tiro de fuzil disparado pela PM no Complexo do Alemão, no Rio.
  • Professores no Paraná enfrentam dura repressão do governo Beto Richa (PSDB), que retomou o ataque contra a Previdência do funcionalismo. No dia 29, a PM ataca os servidores com selvageria, causando indignação em todo o país.

 MAIO

  • Novo dia nacional de lutas e paralisações, chamado por CSP-Conlutas, CUT, UGT e Intersindical, toma conta do país no dia 29. Maior que o dia 15 de abril, a disposição de luta dos trabalhadores mostra o desgaste do governo contra os ataques à classe.
  • Em Brasília, o governo define o corte recorde no orçamento, aumentando para R$ 70 bilhões, incluindo R$ 11,2 bi da saúde e quase R$ 10 bi na educação. Minha Casa Minha Vida foi o programa que mais perdeu: mais de R$ 6 bi.
  • O funcionalismo público inicia uma grande greve que duraria mais de três meses.

 JUNHO

  • O 2º Congresso Nacional da CSP-Conlutas reafirma uma alternativa de luta para a classe trabalhadora e aprova chamado à greve geral. O congresso reuniu 1.702 delegados e 373 entidades, expressando as lutas mais importantes que ocorriam no momento, como a mobilização operária no Comperj e dos metalúrgicos contra as demissões.
  • No mesmo período, ocorria o 3º Congresso da ANEL, que marcou o crescimento da entidade e aprovou a campanha contra a redução da maioridade penal.

 JULHO 

  • Na Grécia, o governo do Syriza aceita novo plano de austeridade mesmo após plebiscito popular dizer não ao memorando. Tsipras consolida, assim, uma grande traição ao povo grego.
  • O governo Dilma assina a Medida Provisória 680 que impõe o chamado Programa de Proteção ao Emprego (PPE) que reduz salários para manter os lucros dos empresários.

 AGOSTO

  • Novas manifestações contra o governo tomam as ruas no dia 16. Agora, convocadas de forma mais explícita pelo PSDB, Cunha e demais setores da direita. CUT e demais setores governistas convocam manifestações no dia 20 para apoiar Dilma.
  • A GM de São José dos Campos anuncia demissões em massa nas vésperas do Dia dos Pais. Após 12 dias de greve, os operários conseguem anular as 800 demissões.
  • Zé Dirceu é preso novamente, agora durante a investigação da Operação Lava Jato.
  • Em Osasco e Barueri, 13 pessoas são assassinadas em chacina praticada por policiais militares. 

SETEMBRO

  • No dia 18, mais de 15 mil marcham na Avenida Paulista contra o governo e a falsa alternativa de Temer, Cunha e Aécio. Com forte presença operária, a Marcha Nacional dos Trabalhadores, convocada pelo Espaço Unidade de Ação e uma série de entidades dos movimentos sociais e populares, mostrou que existe um espaço para a construção de uma alternativa de classe ao governo e aos demais blocos da burguesia.
  • No dia 19, mais de 1.200 ativistas participam do Encontro Nacional de Lutadores e Lutadoras, em São Paulo, para reafirmar a construção desse campo classista. O encontro aprova um chamado ao PSOL e ao MTST para fortalecer essa alternativa
  • No dia 23, o PSTU e a LIT perdem uma grande e histórica camarada. Cecília Toledo, a Cilinha, jornalista, diretora e dramaturga, falece após uma incansável luta contra o câncer.
  • Na Europa, explode a crise dos refugiados. A foto do menino sírio afogado na praia de Bodrum, na Turquia, se transforma em símbolo dessa tragédia humanitária.

OUTUBRO 

  • O mês começa com Dilma promovendo uma reforma ministerial, entregando ministérios para comprar apoio político no Congresso pra seguir aplicando o ajuste fiscal. Um dos ministérios é o da Saúde, entregue a um aliado de Cunha. Mas, ao invés de restabelecer sua base aliada, a crise política só se aprofunda.
  • São reveladas as contas secretas de Eduardo Cunha na Suíça, com farta documentação comprovando as maracutaias do presidente da Câmara. 
  • Em São Paulo, estudantes e professores começam manifestações contra o projeto do governador Geraldo Alckmin (PSDB) que previa o fechamento de 93 escolas.

 NOVEMBRO 

  • No dia 5, o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco arrasa o subdistrito de Bento Rodrigues, mata ao menos 20 pessoas e polui o Rio Doce. Mais de 600 ficam desabrigados nesse que foi o maior crime socioambiental do país.
  • Manifestações reúnem milhares de mulheres em todo o país contra Cunha e seu projeto que dificulta o atendimento às vítimas de estupro. 
  • No dia 13, a maior série de atentados terroristas da história da França mata 130 pessoas e deixa 200 feridos. 
  • É realizada a Marcha Nacional da Periferia em 14 estados e em mais de 20 cidades no país. Nascida no Maranhão em 2006, a marcha deste ano foi a maior já ocorrida. Unindo pautas específicas com nacionais, a Marcha da Periferia denunciou o genocídio que vitima a juventude negra pela PM racista. Denunciou ainda o governo Dilma, assim como os governos estaduais, cuja política econômica e ajuste fiscal fustigam sobretudo a população negra, principalmente as mulheres negras, que sofrem mais com o desemprego e os ataques aos direitos. A militância do PSTU teve presença fundamental, com o lema "a revolução será negra, ou não será".
  • Petroleiros realizam uma das maiores greves da categoria contra o plano de desinvestimentos da estatal. 
  • Estudantes secundaristas da rede pública de São Paulo começam onda de ocupações de escolas contra o projeto de reorganização de Alckmin.

DEZEMBRO

  • No dia 2, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, autoriza abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Até então, vigorava um acordão entre PT e PSDB para sustentar o deputado no cargo em meio às denúncias de corrupção.
  • Em São Paulo, os estudantes secundaristas conquistam importante vitória com o anúncio da suspensão do projeto de reorganização de Alckmin. Secundaristas ocuparam cerca de 200 escolas em todo o estado e faziam manifestações diárias em vários pontos, todas duramente reprimidas pela PM.