Por uma alternativa socialista e dos trabalhadores em São Paulo

21/5/2014 - As Jornadas de Junho do ano passado abriram uma nova realidade política: milhões de brasileiros saíram às ruas para mudar o país. Porém, contrariando o desejo de mudança, os governos não atenderam as reivindicações levantadas pela juventude e a classe trabalhadora.

O resultado não poderia ser diferente: as manifestações seguem tomando conta do país com greves, protestos e ocupações. Na última quinta-feira, 15 de maio, mais de 50 cidades foram palco de manifestações, no que ficou conhecido como o 15M.

Nesse cenário de protestos e greves – muitas delas passando por cima das direções sindicais pelegas – o Estado de São Paulo continua ocupando um lugar de destaque. Os professores da capital protagonizam uma heroica greve, a juventude vai às ruas contra as injustiças da Copa, diversas categorias de trabalhadores (metroviários, rodoviários, operários da construção civil, metalúrgicos etc.) exigem salários decentes e milhares de família sem-teto vão à luta pelo direito à moradia.

Os governantes e a grande mídia já não conseguem mais esconder: a maioria dos trabalhadores e dos jovens está insatisfeita com as condições de vida e com a precariedade dos serviços públicos. Todos querem mudanças! Contudo, os governos, a começar pelo Governo da presidente Dilma e do PT, seguem atendendo somente aos interesses das grandes empresas, empreiteiras e dos bancos, e deixam de lado as demandas da maioria do povo por mais saúde, educação, moradia, salário e transporte de qualidade. Além da alta da inflação que está corroendo o poder de compra dos trabalhadores e o déficit de moradia nas grandes cidades.

Em nosso Estado, o governo de Geraldo Alckmin, do PSDB, é responsável pela falta de água que atinge a população mais pobre da região metropolitana e pelos escândalos de corrupção envolvendo grandes multinacionais, a CPTM e o Metrô. Já o prefeito da capital, Haddad, do PT, segue sem atender a nenhuma de suas promessas eleitorais. A vida na capital paulista segue um caos, sobretudo para os trabalhadores e os mais pobres. Não à toa, os professores e as famílias sem teto estão em luta.

Daqui a três semanas começa a Copa do Mundo. A FIFA e as grandes construtoras lucrarão bilhões de dólares com o megaevento financiado com dinheiro público. As obras da Copa não beneficiam quem mais precisa. Ao contrário, assistimos as mortes de operários nos estádios, as remoções forçadas, a ampliação do déficit habitacional, a especulação imobiliária, o turismo sexual, a criminalização da pobreza e a repressão aos movimentos sociais. Portanto, não haverá legado aos trabalhadores. Na Copa da FIFA, o povo está de escanteio!

A abertura do Mundial acontecerá na cidade de São Paulo e, com certeza, nas próximas semanas continuarão as manifestações de rua, greves e ocupações. Como dizem os manifestantes: “Na Copa vai ter luta!”. Por isso, no dia 12 de junho, vamos realizar uma grande manifestação popular na capital paulista.

O governo Dilma e o governo Alckmin, embora com discursos diferentes, aplicam o mesmo modelo econômico, que beneficia os poderosos e os ricos, e são aliados na tentativa de criminalização das manifestações e greves. São prisões e inquéritos em todo o Brasil, com o objetivo de garantir a continuidade das privatizações, dos baixos salários e o desmonte dos serviços públicos. Só em nosso Estado, já são centenas de ativistas indiciados apenas por lutar por mudanças sociais.

Portanto, além de fortalecer e unificar as greves e mobilizações em curso se faz necessário também aproveitar as eleições do segundo semestre para lançar uma alternativa política em sintonia com as mobilizações de Junho – uma alternativa socialista, que contribua para que a classe trabalhadora e a juventude avancem na sua mobilização, consciência e organização.

O impasse na construção da Frente de Esquerda e Socialista em SP
Com esse objetivo, o PSTU propôs ao PSOL e ao PCB a construção de uma Frente de Esquerda Socialista nas próximas eleições. Nas eleições presidenciais, essa frente não se conformou pela impossibilidade de um programa comum com a candidatura do PSOL e pela postura hegemonista da direção do PSOL que resolveu escolher sozinha as candidaturas de presidente e vice-presidente. O PCB, por sua vez, optou pelo lançamento de suas candidaturas próprias.

Porém, em São Paulo, assim como em outros estados do país, o PSTU ainda busca unificar em uma mesma frente eleitoral os partidos que fazem oposição de esquerda aos governos do PSDB e do PT, como também ao novo bloco do PSB e Rede (Marina Silva).

Queremos uma candidatura ao governo do estado que não tenha nenhum acordo com estes partidos que representam, cada um ao seu modo, a continuidade do modelo econômico que está aí. Neste sentido, somos totalmente contrários a uma aliança com a Rede, tanto em São Paulo como em todo país. Esse partido, apesar do discurso aparente do “verde” e do “sustentável”, está estreitamente vinculado a grandes grupos empresariais e velhos políticos, como Eduardo Campos.

Neste sentido, foi um erro a tentativa de setores do PSOL de negociar uma coligação com o partido de Marina Silva em São Paulo. Desse modo, não é possível construir uma verdadeira alternativa de esquerda e socialista. Defendemos uma frente eleitoral que tenha total independência política e financeira dos grandes empresários e de seus partidos. Defendemos a ampliação desta frente, mas não com os partidos da burguesia, e sim com o movimento popular, estudantil e sindical.

Em nossa opinião, para a conformação desta frente deve-se respeitar o peso político de cada partido que a compõe. Por isso, propusemos à direção do PSOL que, se o candidato a governador da frente for de seu partido, a candidatura ao Senado da frente deve ser do PSTU. É preciso respeitar o fato de que os partidos terão chapas distintas a Presidente da República, definindo uma presença igualitária aos dois candidatos nas atividades comuns da frente estadual. Além disso, é fundamental uma divisão justa do tempo de TV e Rádio.

Infelizmente, até o momento, observamos uma postura igualmente equivocada da direção majoritária do PSOL de São Paulo, que vêm apresentando uma proposta que representa na verdade uma simples adesão do PSTU às candidaturas do PSOL.

No último final de semana, vimos inclusive uma troca repentina do pré-candidato do PSOL ao governo paulista, quando seu diretório estadual retirou a pré-candidatura de Vladimir Safatle e definiu por uma nova pré-candidatura, de Gilberto Maringoni. Esta é uma discussão interna do PSOL e o PSTU não está comprometido, política ou financeiramente, com um ou outro candidato isoladamente e sim com a construção da frente.

Embora reivindiquemos a construção política em torno do nome de Vladimir Safatle, a troca do candidato ao governo estadual não inviabiliza, por si só, a construção de uma frente eleitoral no Estado de São Paulo entre nossos partidos.

Seguimos defendendo essa política, mas o problema central é a postura vacilante da direção majoritária do PSOL em garantir as condições programáticas, de arco de aliança e de respeito ao peso político de nosso partido na composição da frente.

Por exemplo, nos preocupam notícias já veiculadas na imprensa apontando que a candidatura de Maringoni teria um perfil menos anti-petista. Em nossa opinião, para enfrentar os tucanos, as demais candidaturas burguesas (como as do PMDB e do PSB/Rede) e apresentar uma alternativa verdadeiramente de esquerda e socialista, é preciso enfrentar também a falsa alternativa petista representada pelo nome de Alexandre Padilha. Sem essa condição programática, para o PSTU, se inviabilizaria uma frente eleitoral com o PSOL.

PSTU apresentará uma pré-candidatura ao governo de São Paulo
Diante do impasse nas negociações com a direção do PSOL, o PSTU lançará sua pré-candidatura ao governo do Estado de São Paulo. Vamos discutir com a nossa militância e em reunião de nosso diretório estadual, marcada para o dia 31 de maio, definiremos um nome do partido como pré-candidato ao governo estadual.

Uma pré-candidatura que expresse não somente o programa e as reivindicações, mas também toda a rebeldia das mobilizações de junho e das greves e lutas em curso, fortalecendo a oposição de esquerda ao PT e ao PSDB, sem vacilações, apontando a necessidade da luta por uma sociedade socialista e para os trabalhadores.

Se as negociações para a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista em São Paulo não avançarem, o PSTU não hesitará em apresentar uma candidatura própria ao governo do estado, com o intuito de seguir defendendo os interesses da classe trabalhadora, da juventude e da maioria do povo, apresentando um programa de ruptura anticapitalista e socialista, que busque responder às principais reivindicações dos trabalhadores e da juventude.

João Zafalão, Presidente do Diretório Estadual do PSTU-SP