Marina Silva é alternativa para a classe trabalhadora?


8/9/2014 - A morte de Eduardo Campos, candidato à Presidente da República, num acidente de avião no último dia 13, gerou uma comoção nacional. Marina Silva, que era sua vice, ao assumir a candidatura presidencial em seu lugar, ainda mais nestas circunstâncias, causou uma reviravolta na disputa eleitoral.

A primeira pesquisa, realizada sob o impacto do acidente, mostrou Marina empatada, em segundo lugar na corrida presidencial, com Aécio Neves (PSDB), tendo 21% das intenções de voto contra 20% do candidato do ex- presidente FHC. A pesquisa ainda indicou que num eventual segundo turno entre Dilma (PT) e Marina (PSB), as duas também estariam em uma situação de empate técnico. Porém, hoje, Marina teria 47% dos votos contra 43% de Dilma.

Essas pesquisas devem ser vistas com cautela, por terem acontecido em meio à emoção do acidente, sem que a campanha na televisão e rádio tivesse começado, sem que as demais candidaturas tenham enfrentado a de Marina (Atualização: As pesquisas posteriores confirmaram essa tendência. A mais recente, do Datafolha divulgada no dia 4, mostra Dilma Roussef (PT) com 35% das intenções de voto, empatada tecnicamente com Marina, com 34%. Já Aécio caiu para 14%).

Mas, uma coisa é certa: muitos jovens e mesmo trabalhadores que querem mudança, que têm uma justa bronca dos políticos que estão aí e não se sentem representados, agora estão pensando que Marina pode ser uma alternativa. Mas, será que um possível governo de Marina seria diferente do governo Dilma ou de um governo Aécio?

As propostas, as alianças e o financiamento de campanha da candidatura Marina, da mesma forma que suas ações e conduta como senadora e ministra, indicam que não. Marina Silva faria um governo em favor dos patrões.

Nova Política? Veja quem Marina representa de verdade
Marina Silva anunciou, em 2013, o projeto de criação de um novo partido, que se chamaria Rede Sustentabilidade, que seria uma “nova forma de fazer política” e não seria “nem de esquerda, nem de direita”.

Na época, Marina não conseguiu legalizar o novo partido e aproximou-se do PSB, tornando- se vice de Eduardo Campos. Mas, nem sua proposta de novo partido, nem sua candidatura a presidente (em 2010) apresentaram diferenças com a velha forma de fazer política dos grandes partidos. Marina teve como vice um grande empresário, o dono da Natura, Guilherme Leal, o 13º homem mais rico do Brasil, cuja empresa foi acusada pelo Ministério Público Federal de “biopirataria” no Acre. A Natura teria usurpado um fruto utilizado por índios da região, o murmuru, para a produção de shampoos e sabonetes, registrando-o como sua propriedade.

Uma pesquisa realizada pela Unicamp mostrou que a empresa é um exemplo da exploração da mão-de-obra: explora o trabalho informal de aproximadamente 1 milhão de revendedoras.

Sua campanha, em 2010, também foi financiada por grandes empreiteiras. A construtora Andrade Gutierrez investiu R$ 1,1 milhão e a Camargo Correa, R$ 1 milhão.

Entre os apoiadores de Marina estão desde fundadores do PSDB, como o deputado Walter Feldman (SP), passando pela herdeira do banco Itaú, Maria Alice Setúbal. Sua filiação ao PSB, tradicional partido da burguesia, em outubro do ano passado, é outro indicativo de que Marina seria mais um governo muito parecido com tudo que está aí.


Embora diga defender um novo modo de fazer política, ao se aliar a empresários, Marina demonstra de que lado está. E este lado não é o dos oprimidos e explorados.

O que a candidata defende?
Quando Marina foi candidata em 2010, apresentou um programa econômico que em nada se diferenciava das principais candidaturas. Defendia, por exemplo, a manutenção do fator previdenciário, criado ainda no governo Fernando Henrique e que obriga os trabalhadores a se aposentarem cada vez mais tarde. Em entrevista à rádio CBN, no dia 24 de maio, a então candidata do PV defendeu uma reforma da Previdência. Em declarações ao jornal Valor Econômico, de São Paulo, em outubro do ano passado, Marina Silva defendeu com ênfase uma política neoliberal, de cortes nos gastos sociais para economizar mais dinheiro para o pagamento da dívida aos banqueiros.

Publicado originalmente no Opinião Socialista 484