Lucro acima da vida: mortes no Itaquerão não são casos isolados nas obras da Copa

28/11/2013 - “Acidentes acontecem” disse o presidente da CBF, José Maria Marin, tratando como mera fatalidade a morte dos dois operários na Arena Corinthians, ocorrida nesta quarta-feira, dia 27. Mas, ao contrário, do que opina o cartola, infelizmente, essa tragédia não é um caso isolado no Brasil. Em pouco mais de um ano, outras cinco mortes já ocorreram durante a construção de estádios.

Em abril, um operário da Arena Palestra, estádio do Palmeiras, em São Paulo, faleceu após cair de uma viga que desabou durante as obras.

Em janeiro, outro operário faleceu após sofrer uma descarga elétrica e cair de uma altura de três metros na Arena Grêmio, em Porto Alegre (RS).

Em março, a tragédia foi na Arena Amazônia, em Manaus (AM), onde um operário morreu ao se desequilibrar quando tentava passar de uma coluna para um andaime.

Em junho de 2012, no Mané Garrincha, em Brasília (DF), um operário de apenas 21 anos caiu de uma altura de cerca de 30 metros e não resistiu. No mesmo ano, em julho, um trabalhador morreu no Mineirão, em Belo Horizonte (MG), ao sofrer uma parada cardiorrespiratória dentro da obra.

Além das mortes, acidentes também têm sido comuns. No fim de maio, menos de um mês antes do início da Copa das Confederações, parte da cobertura da Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), não resistiu à forte chuva e cedeu. Não houve registro de feridos.

Em agosto de 2011, um operário havia se ferido no Maracanã ao cortar um barril com uma solda, que explodiu, arremessando-o para longe. O operário ficou com fraturas e queimaduras no corpo.

O Engenhão, no Rio de Janeiro, está fechado desde março depois que a Prefeitura recebeu um laudo da empresa alemã SBP, constatando problemas na cobertura do estádio.

Ganância sem limites
A tragédia no Itaquerão traz à tona a verdadeira situação dos trabalhadores da construção civil no país e de como estão sendo tocadas as obras para a Copa do Mundo 2014. O fato é que mortes e acidentes nos canteiros de obras constituem a outra face, cruel, da expansão do setor nos últimos anos.

A construção civil é o 2º setor que mais mata no Brasil. De cada 10 acidentes de trabalho, três são nos canteiros de obra. Por pura ganância, grandes empreiteiras não oferecem qualquer segurança aos trabalhadores, que enfrentam condições precárias de trabalho e encaram o risco da morte diariamente.

Faltam equipamentos e qualificação adequada, o que é piorado com o processo das terceirizações. De cada dez acidentes, oito ocorrem com terceirizados.  O governo por sua vez não fiscaliza e o número de auditores hoje é insuficiente para garantir que as normas de segurança sejam cumpridas.

Estes foram os motivos das greves e protestos que têm marcado os canteiros de obra no país, seja nos estádios que serão utilizados na Copa ou nas grandes obras, como as hidroelétricas de Jirau e Belo Monte.

“Hoje o que impera é a ganância das empreiteiras que querem garantir seus lucros à custa da exploração dos trabalhadores e de todo o tipo de economia irresponsável na construção das obras. Por outro lado, os governos agem com negligência e complacência com as grandes empresas, como a Odebrecht que toca o Itaquerão, pois são as empreiteiras uma das grandes financiadoras das campanhas eleitorais do PT, PSDB e outros partidos”, denuncia Toninho.

“A morte de operários não é algo que pode ser considerado uma mera fatalidade. O governo Dilma tem de romper o contrato com as empresas que não respeitam a vida dos trabalhadores, ao impor condições inseguras de trabalho, bem como tem de garantir condições para a fiscalização de todo o setor para impedir tragédias como essa”, conclui Toninho.