Geração de emprego se concentra em vagas com baixos salários


14/11/2014 - Levantamento feito pelo jornal Valor, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) – banco de dados do governo federal -, revela que a criação de vagas de emprego no país está se concentrando nas faixas salariais mais baixas.

De janeiro a setembro deste ano, a proporção de vagas abertas no mercado formal com remuneração de até um salário mínimo (R$ 724) passou de 28%, no mesmo período no ano passado, para 35,5% este ano.

A faixa entre 1 salário e 1,5 salário (R$ 724 a R$ 1.086) ainda concentra a maior parte dos postos com carteira assinada gerados neste ano, 62%, mas em proporção menor do que no ano passado, quando chegou a 66,6%.

O estrato entre 1,5 e 2 salários mínimos (R$ 1.086 a R$ 1.448), que chegou a responder por cerca de 15% do total da geração de emprego do país em 2007 e 2008, conta agora 2,5% do saldo total de vagas.

Ainda segundo levantamento do jornal, o tipo de emprego que mais cresceu entre 2006 e 2014, sempre analisando o acumulado entre janeiro e setembro, foi o que paga até meio salário mínimo (R$ 362), 145%. São vagas de jornada parcial, já que o salário mínimo é o piso legal e obrigatório instituído no país.

Segundo os dados do Caged, o total de admissões para vagas com carga horária de até 20 horas semanais cresceu 223% no intervalo. De volta à análise pelo saldo de geração de vagas, a faixa de até meio salário mínimo (R$ 362) já é 4,6% do total dos empregos gerados no país, contra 1,5% em 2006.

O setor de serviços, até setembro, respondeu por 62,6% do saldo de vagas criadas, contra 41,4% no mesmo intervalo do ano passado e 33,1% em 2008. Em contrapartida, o emprego industrial apurou saldo negativo no registro do Caged por seis meses entre janeiro e setembro. De acordo com o IBGE, no período, há uma perda acumulada de 3,5%.

Pleno emprego ou pleno subemprego?
Os governos Lula e Dilma sempre afirmaram, inclusive na recente campanha eleitoral, que em dez anos, o governo do PT criou 18,5 milhões de postos de trabalho contra apenas 5 milhões no governo FHC (PSDB). O PT fala em “pleno emprego”. O IBGE, mais cauteloso, fala em “quase pleno emprego”.  A taxa de desemprego no segundo trimestre deste ano ficou em 6,8%, segundo o IBGE.

Mas a análise dos dados do Caged, referente os primeiros nove meses deste ano, trazem à tona uma realidade que o governo não fala: os empregos que vem sendo gerados nos últimos anos são precarizados e com menor remuneração.

Segundo a cartilha “Os motivos da revolta popular: um balanço crítico do governo do PT”, do Ilaese (Instituto Latino Americano de Estudos Sócio-Econômicos), entre 2000 e 2010, foram criados quase 20 milhões de postos de trabalho formais com salários de até 1,5 salário mínimo e, no mesmo período, foram perdidos mais de 4 milhões de empregos que recebiam acima de 5 salários mínimos.

O estudo demonstra ainda que as vagas são em setores com trabalho precarizado e menos direitos, tais como o comércio (2,1 milhoes de vagas), construção civil (2 milhões) e atendimento ao público (1,3 milhão).

A precarização dos novos postos de trabalho é resultado da aplicação do neoliberalismo no Brasil, com FHC, Lula e Dilma. Informalidade e terceirização, somados à rotatividade da mão de obra, foram os fatores que derrubaram os salários e as condições de vida dos trabalhadores”, afirma o pesquisado Nazareno Godeiro, do Ilaese.